sábado, 20 de julho de 2013

O ACORDO ENTRE HITLER E A IGREJA CATÓLICA!!!!!!!!! GRANDES AMIGOS.... por Augusto Buonicore

Este artigo não tratará do atual pontífice, Bento XVI, apesar de ter sido membro da juventude hitlerista, e nem da onda clerical reacionária que varre várias regiões do mundo, especialmente no Leste Europeu. Na Polônia, por exemplo, o Estado dá suas mãos à cúpula Igreja Católica para ressuscitar o que de pior existe na tradição conservadora cristã: o anticomunismo, o anti-semitismo, a homo-fobia e a misoginia.

Trataremos aqui de outro momento histórico, quando foram estabelecidas sombrias relações entre o papado e o nazi-fascismo. Talvez estas reflexões sobre o passado nos ajudem a elucidar os dramas do tempo presente. Este artigo utilizará amplamente as referências contidas no livro O papa de Hitler do professor e jornalista liberal inglês John Cornwell.

O Tratado de Latrão: O papado e o fascismo italiano

No ano de 1860 o Estado Italiano, que caminhava para unificação, se apoderou de todos os domínios do Papa, menos Roma. A cidade continuava a ser protegida pelas tropas francesas de Napoleão III. Como resposta aos novos tempos de revolução o Papa Pio IX aprovou o documento “Sílabo de erros” (1864) – denunciando os grandes malefícios da modernidade: a democracia, o socialismo, a maçonaria e o racionalismo.


Seguindo na trilha do reacionarismo clerical, em 1870, o concílio Vaticano I estabeleceu o dogma da infalibilidade do Papa. Este, como legítimo representante de Deus na terra, estaria imune aos erros humanos. No entanto, antes que o Concílio chegasse ao fim, as tropas francesas foram obrigadas a abandonar Roma para defender sua própria capital, ameaçada pelos prussianos. Imediatamente o exército italiano entrou na cidade, unificando finalmente o país. 

Hitler cumprimenta bispos católicos


Ao papado coube apenas o pequeno território: o Vaticano.

Pio IX recusou qualquer acordo com o governo italiano e pregou a abstenção política dos católicos. O ambiente clerical se tornou cada vez mais reacionário. As pazes entre o Vaticano e o Estado Italiano só pode ser estabelecida com a ascensão do fascismo ao poder em 1922.

Em fevereiro de 1929 o papa Pio XI firmou com Mussolini o Tratado de Latrão, através do qual o catolicismo voltava a ser a religião oficial e o Estado passava a aceitar os casamentos religiosos. A Santa Sé também expandiria sua soberania para outros prédios e igrejas de Roma, além do Palácio de verão em Castel Gandolfo. O fascismo italiano ainda pagaria uma indenização equivalente a 85 milhões de dólares pelos territórios e propriedades expropriados durante o processo de unificação italiana. Assim, o Santo Padre pode se referir a Mussolini como “um homem enviado pela Providência”.

Pelo Tratado de Latrão, os católicos deveriam se abster da política, especialmente de uma política autônoma que se contrapusesse ao governo fascista. A conseqüência imediata deste acordo foi o fechamento do Partido Popular (católico) e o exílio de seus principais líderes. Enquanto o Papa e os fascistas comemoravam, dezenas de milhares de italianos, muito deles católicos, padeciam sob torturas nas inóspitas prisões do regime.


Hitler, ainda sonhando com o poder, rejubilou-se com as boas novas vindas de Roma. Escreveu ele: “O fato de que a Igreja Católica chegou a um acordo com a Itália fascista (…) prova que além de qualquer dúvida que o mundo das idéias fascistas é mais próximo do cristianismo do que o liberalismo judeu ou mesmo o marxismo ateu, a que o Partido do Centro Católico se considera tão ligado”. O Tratado de Latrão foi o primeiro torpedo dirigido contra os liberais e democratas católicos da Itália e da Alemanha, outros viriam.

Quando Mussolini invadiu a Etiópia, em 1935, o Vaticano não protestou e o alto clero italiano, sem amarras morais, exultou com a aventura colonialista. Um bispo declarou: “Ó Duce, a Itália hoje é fascista e os corações de todos italianos batem junto com o seu!”. “A Nação está disposta a qualquer sacrifício que garanta o triunfo da paz e das civilizações romana e cristã”. 

Enquanto isso armas químicas caiam sobre as cabeças da indefesa população etíope.

O papa e a ascensão do nazismo

Em novembro de 1918 os operários alemães, seguindo o exemplo de seus camaradas russos, derrubaram o seu Imperador e fundaram uma República Democrática, que chegou mesmo a se anunciar como uma República Socialista. Mas, a capitulação da direção do Partido Social-Democrata Alemão frustrou os sonhos dos revolucionários.

Em Munique um dos principais líderes era Eisner que, em fevereiro de 1919, seria brutalmente assassinado por ativistas de extrema-direita. A resposta do governo socialista ao crime foi o endurecimento com os setores contra-revolucionários, no qual se incluía a cúpula da Igreja Católica. Neste quadro conturbado o Núncio papal Eugênio Pacelli, futuro papa Pio XII, foi obrigado a estabelecer delicadas negociações com o novo governo democrático e socialista.


Assim ele descreveu o seu primeiro encontro com os operários e as operárias socialistas: “A cena no palácio era indescritível (…) o prédio, outrora a residência de um rei, ressoava com gritos, uma linguagem vil e profana (…) No meio de tudo isso, um bando de mulheres, de aparência duvidosa, judias como todos ali, refastelava-se em todas as salas, como uma atitude devassa e sorrisos sugestivos. Quem mandava nessa turba feminina era a amante de Levien, uma jovem russa, judia e divorciada.

Foi a ela que a Nunciatura teve de prestar sua homenagem, a fim de prosseguir sua missão”. O dirigente socialista Levien não lhe causou melhor impressão: era “russo e judeu” “pálido, sujo, olhos de drogado, voz rouca, vulgar, repulsivo”. Assim a Igreja católica via os representantes do proletariado alemão.

No auge da República de Weimar, os católicos representavam 1/3 da população alemã e tinham uma força política ainda maior. A Juventude Católica possuía mais de 1,5 milhões de membros e existiam 400 jornais católicos diários. O tradicional Partido de Centro Católico era o segundo maior do país, perdia apenas para o Partido Social-Democrata Alemão. Era nele que, até então, a grande burguesia desaguava seu dinheiro e voto contra o socialismo.

Após a grande crise do capitalismo de 1929, a Alemanha teve sua economia desorganizada. Aumentou a radicalização política. Visando derrotar o movimento operário e socialista, a grande burguesia monopolista muda de aliado, abandona os católicos e passa agora a jogar suas fichas nos nacional-socialistas liderados por Hitler.

Já nas eleições de 1930, o Partido de Centro perdeu espaço para os nazistas, que passaram a ser a segunda força eleitoral. Naqueles dias ainda eram duros os embates entre os centristas católicos e os nazistas. Vários padres, com anuência dos bispos, proibiam os nazistas freqüentar as igrejas enquanto fardados. No entanto, esta resistência estava prestes a desaparecer.

Sob a cabeça dos católicos alemães, o Vaticano tecia sua pérfida trama. Em janeiro de 1933 Hitler assumiu o poder. Estavam dadas as condições para que se estabelecesse uma concordata com o Reich alemão do mesmo tipo que fora assinada com o governo fascista da Itália.

Para testar sua força, uma das primeiras medidas do governo nazista foi apresentar um projeto de Lei de Exceção, através do qual Hitler ficava autorizado a aprovar leis sem consultar o parlamento. Vários dirigentes do Partido de Centro resistiram em dar carta branca ao novo governo.


Então o Vaticano entrou no jogo e pressionou para que eles votassem favoravelmente – pois esta era uma das condições para a assinatura da concordata. Apenas os socialistas e comunistas votaram contra a lei de exceção. Estava aberto o caminho da ditadura nazista, com a benção de Roma.

Em julho daquele mesmo ano, Pacelli, em nome de Pio XI, assinou a concordata com o governo nazista. A partir de então a Igreja Católica e todas as suas organizações deveriam se afastar de qualquer de ação política e social. Em troca o papado poderia impor suas leis canônicas a todos os católicos alemães, além de receber privilégios espaciais para o clero e suas escolas.

Naquele mesmo mês, como aconteceu na Itália, o Partido Católico se dissolveu e muitos de seus líderes seguiram o caminho do exílio. A repressão aos católicos militantes continuou duríssima, com espancamentos e internações em campos de concentração. Muitos acabaram sendo assassinados ao lado de comunistas e judeus.

Um ex-chanceler centro-católico chegou a afirmar que por trás daquela concordata estava Pacelli, que visualizava “um Estado autoritário e uma Igreja autoritária dirigida pela burocracia do Vaticano, os dois concluindo uma eterna aliança. Por esse motivo, os partidos parlamentares católicos (…) eram inconvenientes (…), sendo extintos sem qualquer arrependimento”. Portanto não se tratava mais de barrar apenas o perigo comunista e sim abolir a própria democracia liberal.

Logo após a concordata, o Führer afirmou orgulhoso: “só se pode considerar isso como uma grande realização. A concordata proporcionará uma oportunidade à Alemanha e criará uma área de confiança bastante significativa na luta em desenvolvimentos contra o judaísmo internacional”. Continuou: “O fato de o Vaticano estar concluindo um tratado com a nova Alemanha significa o reconhecimento do Estado nacional-socialista pela Igreja Católica. Esse tratado comprova para o mundo inteiro, de maneira clara e inequívoca, que a insinuação de que o nacional-socialismo é hostil à religião não passa de uma mentira”. Todas as barreiras de ordem moral, que separavam nazistas e católicos, foram minadas pelo Vaticano.

Em abril de 1933 começaram as primeiras perseguições massivas contra a comunidade judaica, através do boicote aos seus estabelecimentos comerciais e espancamentos de judeus por tropas das SA. A primeira resposta dos líderes máximos da Igreja alemã foi: “Os judeus que ajudem a si próprios”. Sem dúvida, uma frase muito cristã.

Durante a Guerra Civil na Espanha, em 1936, Hitler se encontrou com o Cardeal Faulhaber, de Munique. A pauta era a ameaça representada pelo comunismo. O Cardeal deu sua impressão sobre o amistoso encontro com Sr. Hitler: “O Führer possui uma habilidade diplomática e social melhor do que um soberano nato (…) Não resta a menor dúvida de que o chanceler vive com a fé em Deus. Ele reconhece o cristianismo como base da cultura ocidental”. Em seguida elaborou uma carta pastoral que foi lida nas igrejas alemãs, nela pregava a cooperação entre católicos e nazistas contra o comunismo ateu.

No final de 1938 estourou a violência contra os judeus. Numa única noite de novembro, a “noite dos cristais”, mais de 800 deles foram assassinados, 26 mil enviados para campos de concentração, centenas de Sinagogas e estabelecimentos destruídos. Depois deste dia fatídico os judeus foram obrigados a portar a estrela de David nas roupas.

Enquanto o holocausto judeu dava seus primeiros passos na Alemanha, Pacelli assumia o trono pontífice. Quatro dias depois escreveu à Hitler: “Ao ilustre Herr Adolf Hitler, Führer e Chanceler do Reich Alemão! No início do nosso pontificado, desejamos lhe assegurar que permanecemos devotados ao bem-estar do povo alemão confiado a sua liderança”. Nenhuma admoestação em relação à repressão contra os judeus e setores de oposição, nos quais se incluíam vários católicos.

Quando Hitler e Mussolini invadiram a Iugoslávia, eles permitiram a criação de uma Croácia Independente sob o comando do líder fascista Ante Pavelic. Os croatas eram católicos e se consideravam arianos. Sob seu reinado de terror iniciou-se uma limpeza étnica na região. 487 mil sérvios, 30 mil judeus e 27 mil ciganos foram assassinados barbaramente pelos bandos fascistas de Paveli. À frente desses bandos sanguinários estavam os padres franciscanos. O Vaticano imediatamente reconheceu o novo Estado e Pio XII se referiu a ele como “posto avançado do cristianismo nos Bálcãs”. Uma das eminências pardas daquele regime de terror era o bispo Stepinac – que acabou sendo beatificado por João Paulo II em 1998.


Em 1942 o Papa já tinha todas as informações sobre o projeto de “Solução Final”. Operação que visava eliminar judeus, ciganos e eslavos da Europa. Entre 1933 e 1944 mais de seis milhões de judeus foram assassinados nos campos de extermínios nazistas. Depois de forte pressão das forças aliadas – e de muitos católicos e judeus-, Pio XII preparou uma homilia de Natal que visava denunciar esta situação. Para decepção geral ela acabou sendo uma declaração inócua que nem ao menos teve a coragem de usar as palavras judeu, genocídio e nazismo.

Em setembro de 1943, quando a própria Roma caiu sob ocupação militar alemã, a “solução final” chegou às portas do Papa. Começou, então, o aprisionamento de judeus e oposicionistas. Caminhões carregando homens, mulheres e crianças percorriam as ruas vizinhas ao Vaticano. Muitas igrejas começaram a abrigar os judeus, especialmente os convertidos ao catolicismo. Mas, nenhuma conclamação pública foi feita para que os católicos se opusessem às deportações e o massacre de milhares de cidadãos italianos.

Ciente da boa vontade do Papa, o embaixador alemão enviou para o seu chefe uma carta na qual afirmava: “O papa, embora sob pressão de todos os lados, não se permitiu ser levado a uma censura expressa da deportação dos judeus de Roma. Embora deva saber que tal atitude será usada contra ele por nossos adversários (…) mesmo assim o papa fez tudo o que era possível para não prejudicar as relações com o governo alemão”.

Naqueles dias fatídicos, a preocupação de Pio XII não era com as famílias italianas deportadas, ou com a cidade ocupada pelos bárbaros nazistas, mas com os partisans que lutavam pela libertação da Itália. Temia que uma abrupta saída dos alemães pudesse deixar a cidade nas mãos da resistência comunista. “Os alemães, afirmou ele, pelo menos, haviam respeitado a cidade do Vaticano e as propriedades da Santa Sé em Roma”. A sorte de Pio XII é que Deus não existe, pois se existisse o fulminaria com um raio diante de tal heresia.

Em 23 de março de 1944 um grupo de guerrilheiros atacou um comando alemão e matou 33 invasores. Este ato heróico foi duramente criticado pelo Vaticano e definido como terrorismo. A resposta alemã foi assassinar friamente 335 italianos. A Santa Sé simplesmente se lastimou pelas pessoas sacrificadas “em lugar dos culpados”. Em outras palavras, o Papa não se oporia se os fuzilados fossem os membros da resistência italiana.

O papa e a guerra-fria

Quando, finalmente, Roma foi libertada, o Sumo Pontífice enviou uma singelo pedido, mui cristão, ao alto-comando das Forças Aliadas na Itália no qual dizia: “O papa espera que não haja soldados pretos entre as tropas aliadas que ficarão aquarteladas em Roma depois da ocupação”.

Nazistas sim, soldados negros não. Neste caso a preocupação do Santo Papa não eram as propriedades do Vaticano e sim a virgindade das moças italianas. A hecatombe universal não foi suficiente para remover os preconceitos raciais do representante de Deus na terra.

No imediato pós-guerra estabeleceu-se uma sólida aliança entre o Vaticano e o imperialismo norte-americano. O primeiro, e mais sombrio, resultado desta nova concordata foi a cobertura dada à fuga de inúmeros criminosos de guerra nazistas para a América do Sul e Estados Unidos. Eles ainda poderiam ser úteis na luta contra o comunismo.


Milhões de dólares foram investidos na reorganização da Democracia Cristã, na Itália e na Alemanha. Desmontada para ajudar o nazi-fascismo e agora reorganizada para derrotar a esquerda socialista. Em 1949, o Papa determinou que os católicos não deveriam ser membros e nem votar nos Partidos Comunistas. Os padres estavam autorizados a recusar os sacramentos a quem desobedecesse estas ordens. As excomunhões se proliferaram por todo o mundo, inclusive no Brasil.


O mesmo Pacelli que advogou a colaboração de católicos e nazistas – ou o silêncio obsequioso em relação aos crimes destes últimos – agora passava a defender uma igreja politicamente ativa contra o comunismo; apoiando, inclusive, de maneira irresponsável, o martírio pessoal dos seus bispos no Leste Europeu.

O conservador Pio XII foi sucedido por três papas progressistas, João XXIII, Paulo VI e João Paulo I que procuraram estabelecer algum diálogo com o mundo socialista, incentivaram teólogos da libertação e defenderam certo ecumenismo. Mas esta fase teve curtíssima duração – foi apenas de 1958 até 1978. João Paulo II retomou o ciclo conservador que agora tem no Papa Bento XVI sua versão radicalizada. Dias difíceis podem esperar os católicos progressistas do mundo. Diante deste quadro sombrio só nos resta suplicar: “Que Deus nos proteja …. do Santo Padre!”

Bibliografia:

Cornwell, John – O papa de Hitler: A história secreta de Pio XII, Ed. Imago, RJ, 2000
Filmografia:
Amém – Diretor Costa Gravas
Roma, cidade aberta – Diretor Roberto Rosselini

Sem comentários:

Enviar um comentário

Qualquer mensagem inapropriada não será considerada.