Um dos génios do neuromarketing, Martin Lindstrom, dinamarquês radicado nos Estados Unidos, decidiu revelar alguns dos segredos da arte da manipulação das massas, eis “Brandwashed” (Gestão Plus, 2012, 312pp., 16,60€). Dado o trabalho do autor junto de marcas que todos nós reconheceremos do nosso dia-a-dia, subintitulado “os truques de marketing que as empresas usam para manipular as nossas mentes” este livro talvez lhe explique a razão de ser de parte da sua lista de compras.
Admito ter devorado este livro mal o recebi do editor há alguns meses, admito também que o coloquei à prova: para determinar se as estratégias exemplificadas no seu conteúdo se limitariam aos Estados Unidos da América, sede e principal mercado das marcas mencionadas nesta interessantíssima exposição, efectuei algumas buscas na Internet, registei-me em vários portais e lojas virtuais – tanto nacionais como internacionais – limitando-me a “ver as montras” e, eis se não quando, os resultados surtiram o temido efeito.
Temido porque acaba por expor que muita gente acede, directa ou indirectamente, aos nossos dados pessoais, o que lemos, que filmes e séries nos atraem, que música ouvimos, em que ano nascemos, etc., e depois utilizam essa informação para nos manipular de modo a que compremos mais, mais e mais coisas que, bem vistas as coisas, nenhuma falta nos fazem.
Ao prestar uma maior atenção, como consumidor ou mero cliente mais atento, às páginas que visito, às pesquisas que efectuo acerca de produtos de que me falaram ou estou a pensar comprar coloquei-me no papel de cidadão comum/potencial comprador e, passadas algumas semanas, comecei a receber, graças ao software de programação utilizado pelos génios do neuromarketing, ofertas de descontos, promoções e venda directa dos produtos pelos quais, por mero teste, demonstrei interesse. E estas promoções surgiram na publicidade das redes sociais, na minha caixa de correio electrónico, na publicidade de dezenas e dezenas de portais e blogues portugueses. Ou seja: a máquina está bem oleada e funciona também em Portugal.
Já prestou atenção à música que ouve no hipermercado, no restaurante ou na sua loja favorita?
Caso não tenha prestado atenção, o seu cérebro, inconscientemente, fê-lo por si. Em “Brandwashed” Lindstrom explica-nos, passo a passo, como somos manipulados mal entramos numa grande superfície comercial, quando consultamos o nosso correio electrónico, quando andamos inocentemente pela Internet, assistimos televisão ou ouvimos a rádio. Numa escrita apelativa que nos chega por intermédio da exemplar tradução de Rita Figueiredo (mal se nota a aplicação do desastroso Novo Acordo Ortográfico, única forma de o conseguirmos digerir) o livro é um verdadeiro page turner, a informação chega-nos a um ritmo arrebatador e findo o livro ficamos com sede de mais e abismados com o modo como os nossos gostos e pequenos prazeres diários podem ser fruto de uma intervenção externa em vez da nossa espontaneidade.
A obra lê-se como uma denúncia, ao ponto de cativar o apoio de Morgan Spurlock (realizador de “Super Size Me – 30 Dias de Fast Food”), autor do prefácio desta edição. Entre as várias revelações ficamos a saber que os músicos, as celebridades e os políticos também são considerados “marcas” e empregam muitos destes génios para se venderem às massas. Infelizmente as consequências políticas e os danos que a aplicação destes esquemas tem causado à democracia ocidental não são explorados neste livro.
Um dos pontos mais altos do livro é quando o próprio autor tenta, sem sucesso, libertar-se ele próprio dessa manipulação abdicando de comprar produtos que não sejam de marca branca. O marketingo do século XXI, o neuromarketing, é uma ciência que inclui experiências em laboratório, análise comportamental (ao ponto de contratarem actores para obterem os efeitos desejados junto dos clientes) e muito de psicologia, quase tudo, aliás. A carteira de clientes de Lindstrom inclui marcas como a Pepsi, a Disney, a Microsoft e a MacDonald’s. Você está a ser manipulado, saiba como.
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