quinta-feira, 25 de julho de 2013

Síria: petróleo e gás entre as causas


Na base das várias Primaveras Árabes pode haver o petróleo e o gás?

A resposta é: não. Ou melhor: não apenas isso.

Se na Líbia a suspeita é grande, no geral as várias "revoluções" têm outros objectivos. Mas os hidrocarbonetos desenvolvem um papel que não pode ser ignorado. Podem não ser a causa principal, mas ninguém em Washington ou Tel Avive esqueceu-se da importância de certas cosias.

O presidente sírio, Bashar al-Assad:
Qual é a verdade sobre os recursos de petróleo e gás de nossas águas? Esta é a verdade: tanto nas nossas águas territoriais quanto no subsolo. Estudos recentes têm mostrado grandes campos de gás nas nossas águas. Então aprendemos que outros campos estendem-se entre Egipto, Palestina e ao longo da costa, recursos que são mais abundantes no norte. Alguns dizem que um dos motivos da crise síria é que é inaceitável esta riqueza ficar nas mãos de um adversário, mas é claro que ninguém nos disse directamente. É uma análise lógica da situação e nós não podemos negar, nem considerá-lo um motivo secundário. Esta é talvez a principal razão para o que está a acontecer na Síria, mas, por enquanto, permanece no domínio da análise.
Petróleo e gás não como razões secundárias mas como co-causa. 
E não seria uma novidade. De todo.

A força das grandes potências não está tanto nas armas mais sofisticadas quanto no controle dos recursos energéticos (e, claro está, na capacidade de transforma-los): petróleo e gás. Sobretudo o segundo que, segundo as previsões dos especialistas, deverá tornar-se o principal combustível em 2030. É bem provável que o ar de batalha entre EUA, israel, Rússia, Irão e Síria cheire a gás. Isso leva a tentar ver no conflito o choque dos interesses sobre a exploração e o transporte do gás: Rússia-China-Irã-Síria dum lado, EUA-Europa-Turquia-Arábia Saudita -Qatar-israel do outro.

O consumo de gás liquefeito na Europa é de 500 biliões de metros cúbicos por ano, principalmente gás da Rússia e do Qatar, mais Líbia. Actualmente, o Qatar fornece cerca de um quarto das necessidades amas espera-se que a dependência do gás russo irá crescer em 2020, através do reforço das relações entre a Europa e a Rússia: algo a que os Estados Unidos e a União Europeia de Bruxelas não querem.

Os cinco projectos

Cinco projectos procuram conquistar o mercado europeu. Lembramos quais:

North e South Stream
Os dois primeiros são Russo e baseiam-se nos consideráveis recursos ​​da própria Rússia. O Nord Stream, que liga Rússia e Alemanha através do Mar Báltico, e o South Stream através da Bulgária antes de chegar na Grécia, Hungria, Áustria e norte da Itália, com uma capacidade de 60 mil milhões de metros cúbicos por ano.

Nabucco
O terceiro projecto é o Nabucco dos EUA projeto "Nabucco", baseado nos recursos do Turcomenistão e Azerbaijão: Tenciona trazer gás para a Europa através da Turquia, Bulgária, Roménia, Hungria, República Checa, Eslováquia e Itália, com capacidade para transportar 31 biliões de metros cúbicos por ano.

Projecto Irão-Iraque-Síria
O quarto o Projecto Irã-Iraque-Síria: os três Países assinaram em Junho de 2011 um memorando de entendimento para o fornecimento de gás iraniano à Síria através do Iraque, com um gasduto de terra de cerca de 1500 km. Em seguida, o pipeline iria atravessar o Mar Mediterrâneo até a Grécia ("saltando" assim a Turquia). Custo: 10 biliões de Dólares e uma capacidade de 40 biliões de metros cúbicos por ano.

Projecto Qatar 
O quinto é chamado de Project Qatar: um gasduto do Qatar para a Europa, com a participação de Turquia e israel. Deveria ter origem no Qatar para depois chegar até a Sírias através de Arábia Saudita e Jordânia. A partir do território sírio, continuaria em três direcções: o porto de Latakia, na Síria, o porto de Tripoli, no Líbano e a Turquia. A capacidade desta quinta pipeline não está claramente definida, mas pode ser maior do que a de Nabucco.

As reservas do Mediterrâneo

As mais recentes descobertas de grandes jazidas de petróleo e de gás no Mediterrâneo oriental (águas territoriais afectadas: Grécia, Turquia, Chipre, Síria, Líbano, Palestina, Egipto e israel) mudaram radicalmente a situação geopolítica e poderiam estar na origem de rivalidade com consequência potencialmente terríveis.

O Instituto dos Serviços Geológicos dos Estados Unidos (o USGS) fala de 9.700 biliões de metros cúbicos de reservas de gás e de 3,4 biliões de barris de petróleo. Embora estes números estejam longe de serem confiáveis, batalhas legais (a até algo mais) sobre a exploração estão em pleno andamento entre os Países.

israel nem esperou o veredicto para assinar contratos com empresas norte-americanas e europeias e para iniciar a construção das explorações de Tamar e Leviathan, ao largo da costa de Haifa. De acordo com as estimativas, deverá abranger uma grande parte das suas necessidades e, por sua vez, exportar o excedente no Ocidente.

As incertezas permanecem, dado o contexto e os conflitos de interesse em curso na região e não só. É o caso do Qatar, sendo fácil para o Irão bloquear o trânsito do gás árabe através do Estreito de Hormuz. Portanto, apoiado pelo Ocidente, o Qatar tenta desesperadamente livrar-se desta possibilidade, oferecendo "um corredor de terra" para exportar o seu gás para a Europa, decidindo assim atravessar...a Síria!

Este é o projecto abençoado pelos líderes dos Estados Unidos, mas verifica-se que esta não é a vontade de Damasco, de Moscovo e de Teheran. Se as estreitas relações entre as três capitais permanecesse tal, o projecto do Qatar seria condenado. E o pequeno País árabe, que já tinha investido na Síria cerca de 8 biliões de Dólares, incluindo no sector do turismo e sem derrubar a liderança de Assad em benefício do projecto, agora parece ter decidido abrir-se o caminho com a força devastadora.
Não sozinho, claro.

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