A mais óbvia é a seguinte: o Papa foi visitar o primeiro País no mundo por número de católicos. Afinal, falamos de 123.280.172 fiéis. Atrás do Brasil há o México (106 milhões), os Estados Unidos (75 milhões), as Filipinas (74.8 milhões).
No entanto, no Brasil há um problema: apenas 64.63% dos cidadãos são católicos. Na Argentina, o País de origem de Papa Francisco, são 92.3%. A proporção de católicos no Brasil em 1872 era de 99,7%, apesar da forte implantação dos cultos sincréticos afro-brasileiros (classes médio-baixas), da Maçonaria, do positivismo e do kardecismo (classes médio-altas). Um século depois, em 1970, a proporção ainda era de 91,8%; em 2000, já tinha caído para 73,6%. Agora, como vimos, 64,6%.
Em 2010, o número de católicos no Brasil caiu pela primeira vez não apenas em termos percentuais, mas também em termos absolutos: 123,3 milhões, em comparação com 125 milhões registrados no censo de 10 anos antes. O que explica a queda é a disseminação do protestantismo, cujos seguidores (ao contrário daqueles dedicados aos cultos sincréticos, maçons, kardecisti ou positivistas) não vivem a espiritualidade com um diferente catolicismo formal, mas reivindicam a auto-identificação exclusiva.
As "novas" religiões
O protestantismo que se espalhou na América Latina não é Calvinista ou Luterano, nada de relação directa entre o fiel e Deus: é Pentecostal, com uma religiosidade "cristianizar" que retoma de uma certa forma o xamanismo típico dos cultos africanos e ameríndios, tendo no entanto uma mensagem de fundo anti-papista e (no sentido mais amplo da expressão) o sentido "racionalista" do kardecismo, do positivismo e da maçonaria.
É suficiente observar uma reunião destas "novas" religiões para perceber logo do que estamos a falar: há um pregador, há pessoas que entram em "trance", há milagres "ao vivo". Longe, portanto, da rígida austeridade das Missas católicas.
As pesquisas indicam que os protestantes no Brasil aumentaram de 5,2% em 1970 para 22,2% em 2010. Em números absolutos, passaram de 26,5 milhões em 2000 para 42 milhões em 2010. Mas também os sem-religião cresceram (embora, após o boom do período 1980-2000, o aumento parece agora abrandar): de 0,8% em 1970 para 8% em 2010, de 12,5 milhões de pessoas em 2000 para 15,3 milhões em 2010. Por outro lado, crescem as outras religiões: 2,2% em 1970, 5,2% em 2010. A projecção indica que o catolicismo em 2040 poderá não ser a religião da maioria dos brasileiros).
Para Francisco, o primeiro Papa da América Latina, efectuar a sua primeira viagem fora da Italia no Brasil foi, de uma certa forma, uma "obrigação"; mas também um complicado desafio, especialmente no Rio de Janeiro, onde certos processos são mais pronunciados do que no resto do País e onde os católicos são a maioria absoluta apenas entre os idosos. Na mesma região, os protestantes já são maioria entre crianças, adolescentes e mulheres em idade reprodutiva: entre as duas religiões há o que os demógrafos chamam de "empate técnico". Uma situação muito diferente daquela europeia, onde emergem não tantos novas religiões quanto uma maior indiferença.
Os sociólogos falam de "mercado da fé", no qual os pentecostais até agora demonstraram ter mais argumentos quando comparados com a Igreja Católica. O catolicismo, no entanto, está perfeitamente em condições de responder ao desafio, como mostra a experiência nos Países onde, partida duma posição de minoria, conseguiu subir. E Papa Francesco também encontra-se bem equipado, provavelmente porque na Argentina enfrentou o desafio na primeira linha, representando a Igreja e, ao mesmo tempo, mantendo bons relacionamentos com a ditadura.
Francisco e as drogas
Neste sentido, o resultado mais significativo é ter evitado as manifestações de protesto. Os mesmos
manifestantes esclareceram que os protestos são dirigidos contra os políticos, não contra o Papa. Outras manifestações, pró-gay ou feminista, permaneceu no âmbito fisiológico.
Por outro lado, Francisco evitou a política. No passado 21 de Junho, a Conferência dos Bispos do Brasil tinha mostrado solidariedade com os manifestantes e, segundo o diário espanhol El País, o Papa comentou que os protestos no Brasil são "justos e de acordo com o Evangelho".
No entanto, durante esta viagem Francisco preferiu ficar mais no genérico. Não sem alguma controvérsia, mas, provavelmente, a estratégia de Francisco é útil para evitar polémicas contingentes.
Em vez disso, houve uma forte posição sobre a questão da legalização das drogas:
O flagelo do tráfico de drogas, que promovem a violência e semeia sofrimento e morte, exige um acto de coragem de toda a sociedade. Não é com a liberalização das drogas, como está a ser discutido em várias partes da América Latina, o irá reduzir-se a difusão e a influência da dependência química.
Isso dito enquanto na Uruguay está a ser introduzido o monopólio estatal da marijuana e há outras propostas em cima da mesa: a "coca livre" de Evo Morales, a tentativa do presidente do México, Vicente Fox, para criar uma multinacional (com a Microsoft) da mesma droga.
Uma tomada de posição, aquela do Papa, que deve ser lida no âmbito do dialogo acerca dos valores da Igreja católica. Uma tomada que, em qualquer caso, já tornou felizes uma inteira categoria de empresários: os traficantes ilegais de droga.
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