Um ecosistema de algoritmos informáticos ultrarápidos capazes de operar em 0,001 segundos, muito mais rápido que o tempo de reação dos humanos, controla os mercados, segundo um estudo publicado na Nature.
A Matrix existe e está começando a controlar nossas vidas desde a Economia e sem que ninguém perceba. Foi descoberto por um grupo de investigadores da Universidade de Miami que, num artigo publicado na Nature Scientific Reports, alerta do surgimento de todo um “ecosistema” de “robôs predadores de mercados” que operam à uma velocidade muito superior ao tempo mínimo de reação dos seres humanos.
Recentemente, o mercado financeiro global experimentou uma série de “problemas técnicos” que, nos casos mais sangrentos, chegaram a cortar abruptamente as operações ao ponto de paralisá-las por completo. E resulta que uma das razões destes “congelamentos súbitos” é o repentino surgimento de grupos de robôs ultrarápidos, que exploram o mercado global e que operam a velocidades além da capacidade humana, o que afoga, até o colapso, o mercado de valores.
O surgimento deste “ecosistema de máquinas ultrarápidas” foi documentada no estudo “Abruptrise of new machine ecologybeyond human response time” (‘O abrupto surgimento de um novo ecosistema de máquinas com um tempo de resposta além do humano’), recém aparecido na Nature Scientific Reports.
As descobertas sugerem que em escalas de tempo de menos de um segundo, o mundo financeiro é capaz de levar a cabo uma repentina transformação à uma “ciberselva” habitada por agrupamentos de agressivos algoritmos de comércio. “Esses algoritmos podem operar tão rápido que os humanos são incapazes de participar em tempo real e no seu lugar, surgem os robôs ultrarápidos para tomar o controle”, explica Neil Johnson, professor de Física no College of Arts and Sciences da Universidade de Miami e autor do estudo.
“Nossas descobertas mostram que, neste mundo de algoritmos robotizados ultrarápidos, o mercado experimenta uma transição abrupta e fundamental para se converter em outro mundo onde as teorías do mercado convencional deixam de ser aplicáveis”, completa Johnson.
Numa fração de milisegundo
A pressão da sociedade para conseguir sistemas mais rápidos que deixem atrás aos competidores conduziu ao desenvolvimento de algoritmos capazes de operar mais rápido que qualquer ser humano do planeta. Por exemplo, o mais rápido que uma pessoa pode reagir à um perigo potêncial é um segundo. Inclusive um grande mestre de xadrez demora em torno de 650 milisegundos em perceber que está em problemas. Porém, os microchips que já existem e se aplicam ao comércio podem operar numa fração de um milisegundo (ou seja, em 0,001 segundos).
Em seu estudo, os investigadores reuniram e analisaram as resoluções de alto rendimento adotadas num milisegundo dentro da corrente de preços de múltiplas ações e mudanças. Entre janeiro de 2006 e fevereiro de 2011, encontraram 18.250 ações extremas que ocorreram em menos de 1,5 segundos, incluindo altas de preços e quedas financeiras.
A equipe se precaveu de que, como a duração destas operações extremamente ultrarápidas se situava por baixo do tempo de reação humana, o número de altas de preços e quedas financeiras se incrementava dramáticamente. Para entender este comportamento, criaram um modelo e concluiram que os sucessos eram o produto de operações de mercado de computadores ultrarápidos, e que não eram atribuíveis a outros fatores, como as regulações do mercado ou as operações erradas. Johnson, que dirige o grupo de investigação interdisciplinar para processos complexos da Universidade de Miami, compara a situação com um ecosistema meioambiental.
“Enquanto se têm a combinação normal de presas e predadores, tudo está equilibrado, mas se for introduzido predadores que são muito rápidos, eles geram sucessos extremos – detalha Johnson -. O que apreciamos com os novos algoritmos ultrarápidos são operações de mercado predadoras. Neste caso, os predadores atuam inclusive antes de que suas vítimas saibam que estão ali”.
A chave, sua simplicidade
Johnson explica que se quiserem regular estes algoritmos ultrarápidos, é necessário compreender primeiro seu comportamento coletivo. E essa é uma tarefa de imensas proporções, embora com a vantagem de que esses algoritmos supervelozes costumam ser relativamente simples, já que a simplicidade é, precisamente, o que permite um processamento mais rápido.
“O número de coisas que um algoritmo ultrarápido pode fazer são relativamente poucas – conclui Johnson-. Isto significa que é muito provável que adotem o mesmo comportamento e que, portanto, gerem uma cibermultidão ou um ciberagrupamento que ataca uma certa parte do mercado. Isto é o que dá origem aos sucessos extremos que temos observado. Nosso modelo matemático está capacitado para capturar este comportamento coletivo e estabelecer um modelo de como esses ciberagrupamentos se comportam”.
De fato, Johnson acredita que esta nova compreensão sobre a forma em que as máquinas estão afetando às operações financeiras poderiam ter outras importantes aplicações fora do mundo economico, como por exemplo na manipulação dos ciberataques e na ciberguerra.
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