sexta-feira, 15 de novembro de 2013

The Brussels Business: quem manda na Europa?

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E vamos falar de Europa, mas desta vez com uma boa notícia.
Que é esta: a Ert decidiu abrir um site internet.
Não é maravilhoso?

Eu sei, eu sei: o Leitor ficou comovido. Também eu.
A única dúvida é: mas quem é esta Ert?
Muito bem sagaz Leitor, boa pergunta.

Então é assim: o Leitor vai votar convencido de que a opinião dele possa mudar os destinos do País. Mas enquanto está a entreter-se com urna e caneta (aqui ainda nada de urnas electrónicas como no Brasil), há grupos que decidem como deve ser a vida do Leitor. Um grupo é este: o Ert, European Round Table, ou Mesa Redonda Europeia.

O Ert é um grupo e poder. Não uma simples lobby ao serviço das multinacionais, mas a expressão directa do mundo empresarial mais potente e globalista.
Não é um grupo de pressão: o Ert decide.

Um pouco de história? Isso mesmo.

O Ert foi fundado em 1982, fortemente desejado pelo então Imperador do Mundo, Ronald Reagan I, que atribuiu a chefia a Licio Gelli (Grande Mestre da mais potente loja maçónica italiana, a P2: corrupção, serviços secretos, Gládio, máfia, terrorismo, etc.). Nada mal como começo.
E aqui acaba a história do Ert.

Já? Já, pois não há muito mais para dizer: com um orçamento de 1.28 biliões de Euros, o Ert nunca teve tempo para o gossip e começou logo a influenciar a política europeia. Doutro lado, esta sempre foi a sua tarefa.

Mais pormenores? Que assim seja, então eis uma foto de família:
Esta imagem foi tirada em Abril de 1983 e representa aquela que oficialmente foi a primeira reunião do Ert, em Paris.

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De esquerda para direita, em cima: Karl Beurle (Thyssen), Carlo De Benedetti (Olivetti), Curt Nicolin (ASEA), Harry Gray (United Technologies), John Harvey - Jones (ICI), Wolfgang Seelig (Siemens), Umberto Agnelli (Fiat), Peter Baxendell (Shell), Olivier Lecerf (Lafarge Coppée), José Bidegain (Cie de St Gobain), Wisse Dekker (Philips).
De esquerda para direita, em baixo: Antoine Riboud (BSN), Bernard Hanon (Renault), François-Xavier Ortoli (EC), Pehr G. Gyllenhammar (Volvo), Etienne Davignon (EC), Louis von Planta (Ciba-Geigy), Helmut Maucher (Nestlé).

São fofinhos, não são?
O quê? Falta a mesa redonda? Tá bom, é a austeridade, mas fazem ternura na mesma.

Desde então, os Presidentes do Ert foram:
  • Pehr Gyllenhammar (Volvo, 1983 -1988)
  • Wisse Dekker (Philips, 1988 - 1992)
  • Jérôme Monod (Suez Lyonnaise des Eaux, 1992 - 1996)
  • Helmut Maucher (Nestlé, 1996 - 1999)
  • Morris Tabaksblat (Reed Elsevier, 1999 - 2001)
  • Gerhard Cromme (ThyssenKrupp, 2001 - 2005)
  • Jorma Ollila (Nokia, 2005 - 2009)
  • Leif Johansson (Ericsson, 2009 - ...)
Que fique claro: o Ert outra coisa não é a não ser um grupo que decide por conta de outros. Ou achamos que a ideia de Reagan I era criar um clube para empreendedores aborrecidos? E ao ler o conteúdo do site oficial, podemos ter uma ideia de quais ideias o Ert defende.
A propósito, vamos espreitar o site.

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Mudanças climatéricas
Pois, o Ert é bom e verde e odeia o Aquecimento Global. Porque tem que ficar claro: há Aquecimento Global e um dos grandes objectivos da Humanidade é a redução da emissão do Dióxido de Carbono.
Redução que o Ert apoia.

Educação
"A Ert acredita que o maior recurso da Europa é o seu povo". E eu que pensava fossem as salsichas alemãs...

"O futuro da Europa e das suas indústrias depende de força de trabalho de hoje e amanhã. Uma maior consciencialização da competição global que aEuropa está a enfrentar é necessária, bem como umcompromisso renovado para aumentar a eficiência, adaptabilidade e inovação através de uma força de trabalho educada".

Esta passagem é muito interessante. Não somos cidadãos, não temos crianças: somos forças de trabalho de hoje, criamos força de trabalho de amanhã. Uma visão simpática e encorajadora.

Mulheres
Não podia faltar um pensamento dedicado às mulheres: "Como líderes empresariais e cidadãos responsáveis ​​das nossas sociedades, enfrentamos o desafio do progresso das mulheres no local de trabalho. Apesar de estarmos a atrair mais mulheres no mercado do trabalho, ainda temos muitos mais desafios a superar".
Óbvio.

Inovação
"O Ert acredita que a inovação é o principal motor do crescimento sustentável e que a implementação da União da Inovação seja uma proposta fundamental para assegurar o futuro económico da Europa".
Não encontrei nada acerca desta "União da Inovação", mas mesmo assim fiquei com medo...

Concorrência
"O Ert acredita que a globalização, a rápida mudança tecnológica e o dinamismo do mercado estão a intensificar a concorrência nos mercados da União Europeia e no mundo. A política de concorrência da UE, que é fundamental para o bom funcionamento do mercado interno, deve ser adaptada à economia global, efeita a medida para os mercados dinâmicos".
Um pensamento muito profundo. 

Energia
"O Ert acredita que a Europa precisa de uma estratégia energética que garanta a transição para uma economia com pouco combustíveis fosseis, enquanto salvaguarda a segurança energética, a qualidade do fornecimento e o custo para a indústria e sociedade. A transição da matriz energética deve levar em conta todas as opções para garantir uma base de fornecimento energético e a sustentabilidade ambiental, a custos que tornem a indústria europeia competitiva".

Este parece o programa do WWF... 

E haveria mais, mas o tom é sempre o mesmo. Bom, doutro lado não podemos esperar encontra algo do tipo "Somo um grupo nascido numa loja maçónica e o nosso objectivo é dirigir a política da União Europeia". Estas são coisas que se fazem mas não se dizem (se calhar em bom Português deveria ser "fazem-se", "dizem-se"...não faz mal, o Leitor entendeu).

Se calhar, a maneira melhor para entender quem é e o que faz este Ert é espreitar a lista dos membros. Que acham? Boa ideia? Claro que é. Então vamos ver.

Presidente: 
Leif Johansson (Ericsson, Suécia) 

Vice-Presidente:
Peter Löscher (Siemens, Alemanha) 
Benoît Potier (Air Liquide, França) 

Membros 
César Alierta Izuel (Telefónica, Espanha) 
Nils S. Andersen (A.P. Moller - Maersk, Dinamarca) 
Paulo Azevedo (Sonae, Portugal) 
Franco Bernabè (Telecom Italia, Italia) 
Kurt Bock (Basf, Alemanha)
Jean-François van Boxmeer (Heineken, Holanda)
Carlo Bozotti (STMicroelectronics, Italia) 
Svein Richard Brandtzaeg (Norsk Hydro, Noruega) 
Antonio Brufau (Repsol, Espanha) 
Ton Büchner (AkzoNobel, Holanda) 
Paul Bulcke (Nestlé, Suíça) 
Jean-Pierre Clamadieu (Solvay, Bélgica) 
Vittorio Colao (Vodafone Group, Reino Unido) 
Ian Davis (Rolls-Royce, Reino Unido) 
Rodolfo De Benedetti (Cir, Italia) 
Pierre-André de Chalendar (Saint-Gobain, França) 
Christophe de Margerie (Total, França)
Marijn Dekkers (Bayer, Alemanha) 
John Elkann (Fiat, Italia)
Tom Enders (Eads, Alemanha)
Ignacio S. Galán (Iberdrola, Espanha) 
Antti Herlin (Kone, Finlândia)  
Zsolt Hernádi (Mol, Hungria) 
Heinrich Hiesinger (ThyssenKrupp AG, Alemanha)
Frans van Houten (Royal Philips, Holanda) 
Pablo Isla (Inditex, Espanha)  
Jacek Krawiec (Pkn Orlen, Polónia) 
Bruno Lafont (Lafarge, França) 
Thomas Leysen (Umicore, Bélgica) 
Gary McGann (Smurfit Kappa Group, Irlanda) 
Gérard Mestrallet (Gdf Sues, França) 
René Obermann (Deutsche Telekom, Alemanha) 
Dimitri Papalexopoulos (Titan Cement, Grécia) 
Olof Persson (Volvo, Suécia) 
Jan du Plessis (Rio Tinto, Reino Unido) 
Norbert Reithofer (Bmw Group, Alemanha)
Gerhard Roiss (Omv, Áustria) 
Kasper Rorsted (Henkel, Alemanha) 
Güler Sabanci (Sabanci Holding, Turquia) 
Paolo Scaroni (Eni, Italia) 
Severin Schwan (F. Hoffmann-La Roche, Suíça) 
Jim Snabe (Sap, Alemanha)
Carl-Henric Svanberg (BP, Reino Unido) 
Johannes Teyssen (Eon, Alemanha) 
Peter R. Voser (Royal Dutch Shell, Holanda)
Jacob Wallenberg (Investor AB, Suécia) 
Willie Walsh (Iag, Reino Unido)
  
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Não sei se viram bem os nomes....
Consideradas as pessoas envolvidas, é simples perceber de que esta é muito mais do que uma lobby: este é um centro de poder e, sobretudo, de decisão, com todos os principais industriais do Velho Continente.

Juntos, controlam 75% da produção mediática da Europa. Controlam as bolsa, os mercados, os investimentos. São eles que estabelecem as fusões entre grupos, quais empresas devem ser consideradas estratégicas, que tem que dirigir os bancos, as televisões, os jornais.

As pessoas desta lista têm 1.500 escritórios (todos legais, ora essa) só em Bruxelas: é daí que partem as ordens, que atravessam e depois entram direitinhos no Parlamento Europeu, onde são executados. Os vários Durão Barroso, Mario Draghi, Herman Van Rompuy, são figuras de fachada, todas intercambiáveis.

Todas, sem excepção. A única possibilidade para permanecer debaixo dos holofotes é executar quanto lhes for pedido.

O objectivo estratégico do Ert, nesta fase, é destruir qualquer tentativa de construir modelos de cidadania activa e de partidos de oposição (oposição séria, como é óbvio, não aquela actualmente presentes nos parlamentos) que possa interferir no controle da máquina europeia. É em volta deste clube que é jogado o futuro da Europa. E não só, pois o Ert não está sozinho mas faz parte dum projecto maior, que atravessa os mares e engloba muitas outras realidades.

Haverá alguém por cima do Ert? Aqui o discurso torna-se complexo e cada um pode ter a sua própria ideia. Todavia, faço notar como da lista dos membros faltem alguns nome. Pelo menos um. 

A partir da próxima semana, em diferentes cidades da Europa, começará um processo ode monitorização das actividades deste grupo. Um milhar de pessoas, na Europa e na Califórnia, decidiram vigiar, por quanto possível, o Ert.

Haverá também uma reportagem, The Brussels Business, realizada no ano passado pelo austríaco Friedrich Moser e o francês Mathieu Lieuthert. Será exibida em várias cidades europeias: Milão, Roma, Paris, Londres, Madrid entre as outras.


Pois em português não está disponível. Esquisito, não é?
Console-se o Leitor: pode sempre ver o último tour de Celine Dion, este sim todo legendado (quase 3 horas!!!).

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