Os laboratórios ajudaram a "gerar"quadros clínicos, como a disfunção sexual feminina, com objetivo de desenvolver um mercado global de novos remédios, segundo artigo publicado nesta quinta-feira no British Medical Journal.
No texto, o jornalista e acadêmico Ray Moynihan, da Universidade de Newcastle, na Austrália, mostra as conclusões que chegou enquanto pesquisava para escrever seu novo livro "Sex, Lies and Pharmaceuticals" ("Sexo, Mentiras e Farmacêuticos", em tradução do título para o português).
Moynihan questiona a indústria farmacêutica por considerar que subvenciona "a ciência de uma nova condição conhecida como 'disfunção sexual feminina'", e diz que este setor contribui para o desenvolvimento de mercados em nível global para a fabricação de novos remédios.
Em suas pesquisas, o jornalista descobriu que funcionários da indústria farmacêutica tinham trabalhado com empresas de pesquisas de opinião pagas para ajudar a "desenvolver" a doença.
Pesquisas realizadas teriam comprovado que este quadro clínico se estendeu.
O australiano considera, além disso, que os pesquisadores elaboraram ferramentas de diagnóstico para convencer as mulheres de que suas dificuldades sexuais merecem "um rótulo médico e um tratamento".
Desta forma, ele afirma que as estratégias de marketing das empresas farmacêuticas "estão emergindo na ciência médica de uma forma fascinante e aterrorizadora". O jornalista, então, se pergunta se é necessário encontrar um novo enfoque para definir o distúrbio.
Moynihan cita um empregado de uma empresa que alega que a companhia está interessada em "acelerar o desenvolvimento de uma doença", além de revelar como elas financiam pesquisas que refletem extensão de problemas sexuais e encontram ferramentas para avaliar as mulheres por seus supostos "transtornos de desejo sexual hipoativo".
De acordo com o artigo, muitos dos cientistas ligados a estas atividades são empregados das empresas farmacêuticas ou têminteresses econômicos na indústria.
Ao mesmo tempo, outros relatórios científicos realizados sem financiamentos questionaram se a propagação da disfunção realmente existiu.
A indústria farmacêutica também tem, atualmente, um papel pioneiro de "educar" tanto profissionais quanto o público sobre esta condição, de acordo com o acadêmico.
Moynihan cita como exemplo um curso financiado pela farmacêutica Pfizer desenvolvido para médicos dos Estados Unidos que argumentaram que até 63% das mulheres sofriam distúrbios sexuais e que a testosterona e o sildenafil (componente do Viagra) poderiam ajudá-las, se combinados com terapia.
"Talvez seja hora de reavaliar a forma como o sistema médico define as doenças comuns e recomenda como tratá-las", sugeriu.
Por outro lado, a médica Sandy Goldbeck-Wood, especialista em medicina psicossexual, apontou em um comentário à parte no mesmo jornal que "ao se defrontar com uma mulher chorando, cuja libido desapareceu e que está aterrorizada de perder o casamento, os médicos podem sentir uma pressão imensa para fornecer uma solução imediata e efetiva"
Neste vídeo abaixo a comediante Mandy Nolan falando (de forma muito cômica) como a indústria farmacêutica quer forçar todas as mulheres terem vontade de ter sexo o tempo inteiro, e se não, elas tem que ser medicadas (em inglês).
Não é a primeira vez que vemos a indústria farmacêutica mexendo os pauzinhos para influenciar as pesquisas médicas de forma a justificarem o uso de remédios. Escrevi no passado sobre os pesquisadores fantasmas, que emprestavam seus prestigiados nomes para laboratórios farmacêuticos escreverem estudos dando embasamento para os seus próprios medicamentos medicamentos.
Este é apenas um caso que acabou vazando e caindo na imprensa. Porque o mesmo não pode ter também ocorrido com a gripe suína, sobre a qual se abateu uma histeria jamais vista, para depois cair no mais profundo esquecimento?
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