domingo, 4 de agosto de 2013

O erro da ciência


Há uma estranha desigualdade entre as ciências da matéria inerte e a dos seres vivos e orgânicos.

A astronomia, a mecânica, e a física têm, na sua base, conceitos que podem exprimir-se com elegância e concisão em linguagem matemática. Estas ciências deram ao Universo linhas tão harmoniosas como as dos monumentos da Grécia Antiga. Envolveram-No na rede brilhante dos seus cálculos e das suas hipóteses; levaram o estudo da realidade para além das formas habituais do pensamento, até inexprimíveis abstracções, que consistiam apenas em equações e símbolos. 

Não sucede assim com as ciências biológicas. Aqueles que estudam os fenómenos da vida encontram-se como que perdidos numa selva inextrincável, no meio de uma floresta mágica cujas árvores inumeráveis mudassem constantemente de lugar e forma. Vergam ao peso de um amontoado de factos, que chegam a descrever, mas que não conseguem definir por meio de formas algébricas.

A observação dos objectos é apenas uma forma inferior de ciência, a forma descritiva. A ciência descritiva classifica os fenómenos. Mas as relações constantes entre qualidades variáveis, isto é, as leis naturais só aparecem quando a ciência se torna mais abstracta. Embora a física e a química não pretendam informar-nos sobre a natureza última das coisas, permite-nos contudo predizer fenómenos e reproduzi-los sempre que queremos.. (...)

A ciência dos seres vivos em geral e do indivíduo humano em particular, não progrediu tanto. Encontra-se num estado descritivo. O homem é um todo indivisível de extrema complexidade.(...)
É não só um ser prodigiosamente complexo que os sábios analisam por meio das suas técnicas especiais, mas também a soma das tendências, suposições e desejos da humanidade. As concepções que acerca dele possuímos estão impregnadas de metafísica.(...)
Mas, embora possuindo o tesouro de observações acumuladas pelos sábios e pelos filósofos, pelos poetas e pelos místicos, não aprendemos senão aspectos e fragmentos do homem. E esses fragmentos são ainda criados pelos nossos métodos. Cada um de nós é uma procissão de fantasmas, no meio da qual marcha a realidade Incognoscível. (...)

Verifica-se pois, que o meio que a ciência e a técnica conseguiram desenvolver a favor do homem não nos convém, porque foi criado ao acaso, sem conhecimento da natureza dos seres humanos e sem preocupação da verdadeira realidade.

Em suma: As ciências da matéria fizeram imensos progressos, ao passo que as dos seres vivos permaneciam num estado rudimentar. As aplicações das descobertas científicas transformaram o nosso mundo material e mental. Tais transformações influenciam-nos profundamente. O seu carácter nefasto deriva de terem sido feitas sem consideração por nós. A nossa ignorância sobre nós próprios, deu à mecânica, à física e à química, o poder de modificarem ao acaso as antigas formas de vida.

O homem devia ser a medida de tudo e afinal é um estrangeiro no mundo que criou. Não soube organizar esse mundo para si, por não possuir conhecimento positivo da sua própria natureza. O avanço pelas ciências da matéria inanimada sobre as dos seres vivos, é portanto, um dos acontecimentos mais trágicos da humanidade.


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