quarta-feira, 24 de julho de 2013

Portugal: as vendas suspeitas da reserva nacional de ouro


Evolução das reservas de ouro, Banco de Portugal:
  • Em 1971, o BoP tinha 818,3 toneladas
  • Em 2001, o BoP tinha 606,7 toneladas
  • Em Abril de 2012 o BoP tinha 382,5 toneladas
Os valores apresentados são diferentes daqueles de Vítor. Desconfio que a explicação seja: o gráfico do Banco de Portugal considera o total teórico das reservas, uma parte das quais está actualmente no centro do caso jurídico internacional relacionado com o Terceiro Reich de Adolf Hitler. Na verdade, aquele ouro não está actualmente disponível (não pode ser vendidos, por exemplo) mas o Banco de Portugal continua provavelmente a inseri-lo nas actividades.
Eis o gráfico:
  

De acordo com o gráfico, os períodos compreendidos entre os anos de 1976-1978 e 2001-2006, corresponderam à venda da maior quantidade de ouro (172 e 224 toneladas respectivamente, num total de 396 toneladas). E é significativo que estes dois períodos coincidiram com uma baixa dos valores no mercado mundial do metal. Confirma-se, portanto, quanto realçado no artigo Onde estão as reservas de ouro?: os bancos centrais venderam parte das próprias reservas auríferas na altura em que foi possível favorecer os compradores e não quem vendia. Curioso, sem dúvida.

Mais curioso ainda: a venda parou quando as cotações do metal começaram a subir. No período 2001-2006, por exemplo, uma onça de ouro valia 271 Dólares e o Estado Português vendeu 224 toneladas de metal. Em 2006, uma onça já valia 603 Dólares e Portugal deixou de vender, evidentemente assustado com a perspectiva de ganhar mais.


Quanto perdeu Portugal com a venda na altura de baixa cotações? Acerca de 5.073 milhões de Euros, tendo como base o actual valor do ouro. Para se compreender a dimensão da vergonhosa política de alienação de ouro que se realizou em Portugal durante estes cinco anos, basta dizer que os 5.073 milhões de Euros «perdidos», corresponderiam a cerca de 6,4% do empréstimo concedido pelo FMI/UE a Portugal. Mais: os Portugueses bem sabem da ameaça do próximo corte de 4.000 milhões de Euros: com o ouro vendido numa altura mais rentável, Portugal teria o dinheiro suficiente para evitar o corte e até sobravam alguns trocos para comprar um carro novo para o Primeiro Ministro.
Claro, estas são comparações que fazem pouco sentido: mas dão uma ideia.
Mas fica a dúvida: porque Portugal vendeu o ouro? 

Se a primeira venda (1977/78) encontra justificação com o programa do Fundo Monetário Internacional no mesmo biénio, o mesmo não pode ser afirmado em relação à segunda venda (2001/06).
A resposta encontra-se nas páginas de "Operações ao abrigo do Acordo dos Bancos Centrais sobre o Ouro” do Banco de Portugal, que assim reza (o itálico é meu):
1. O Banco de Portugal informa que no final do ano de 2002 procedeu à venda de 15 toneladas de ouro tendo por objectivo a diversificação da composição das reservas externas. Estas vendas foram efectuadas ao abrigo do “Acordo dos Bancos Centrais sobre o Ouro”, assinado em Setembro de 1999.

2. As referidas operações de venda surgem na sequência de um planeamento de médio prazo visando a alteração da composição das reservas externas do Banco de Portugal, pelo que não se encontram associadas à actual conjuntura financeiraO ouro é normalmente um activo com baixa rentabilidade financeira e Portugal é um dos países em que as reservas de ouro, no total de cerca de 600 toneladas, atingem uma percentagem muito elevada das reservas externas totais - cerca de 47%. Há muito tempo que o ouro já não desempenha uma função monetária como em épocas passadas e, para um país integrado numa união monetáriaaquela percentagem é excessiva e não permite optimizar no longo prazo a rentabilidade das reservas externas do país. [...]

4. Os proveitos realizados com as vendas de ouro ficam retidos no Banco de Portugal e são consignados a uma Reserva Especial que constitui parte integrante dos capitais próprios do Banco. De acordo com as regras contabilísticas em vigor no Eurosistema, o ouro é valorizado diariamente no balanço do Banco ao preço de mercado, pelo que os proveitos associados à venda do ouro resultam da libertação de montantes de uma conta de reavaliação de valores onde se acumulam as diferenças em relação ao preço histórico de balanço.

5. As operações de venda agora concretizadas no contexto do “Acordo dos Bancos Centrais sobre o Ouro” de 1999 inscrevem-se na evolução histórica no sentido da desmonetização do ouro. Nos últimos anos vários países, signatários ou não daquele Acordo, venderam parte substancial das suas reservas de ouro. Durante o próprio mês de Dezembro, vários outros Bancos Centrais realizaram também algumas operações de venda, na conjuntura de elevados preços de mercado que temporariamente se verificam. As operações realizadas pelo Banco de Portugal integram-se na mesma orientação estratégica e permitem assegurar no futuro uma maior rentabilidade na gestão das reservas externas do País.

Pelo que aprendemos o seguinte:

  • O ouro vale pouco, melhor diversificar (que tal um swap?).
  • Portugal tinha demasiado ouro, uma vergonha. Afinal o Banco de Portugal fez um favor ao País.
  • Os ganhos não foram para os contribuintes para uma reserva especial do Banco de Portugal. E acreditem: não é a mesma coisa.
  • Os Países de Zona Euro não precisam de ouro, que é coisa foleira: melhor procurar outros activos, capazes de A"assegurar no futuro uma maior rentabilidade".


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