sábado, 7 de setembro de 2013

Armas químicas usadas na Síria podem ter vindo dos EUA - Tenente-coronel Eduard Korshunov


No auge da crise síria, a polêmica entre os apoiantes e os adversários de uma evolução militar dos acontecimentos atingiu o seu nível mais alto. Entretanto, os peritos apelam a uma análise exaustiva de todas as possíveis versões que expliquem o aparecimento de armas químicas em áreas de combates. Só depois se deverão tirar conclusões.

Recentemente, na imprensa apareceu uma versão curiosa sobre a origem das armas químicas usadas na Síria. Elas teriam alegadamente vindo dos Estados Unidos, onde malfeitores tê-las-ão sintetizado em condições quase caseiras, pois as maiores cadeias de supermercados dos EUA vendem artigos que podem ser usados na produção do gás sarin.


Nem todos os peritos acreditam nisso. Esta é a opinião do tenente-coronel Eduard Korshunov, chefe do departamento de investigação em história militar da Região Noroeste da Federação Russa do Instituto de História Militar do ministério da Defesa russo:

“Isso é pouco provável, porque tanto os componentes, como o próprio gás sarin estão abrangidos pela Convenção sobre Proibição de Armas Químicas. A Convenção sobre Proibição de Armas Químicas é um documento com três listas em anexo. A primeira contém as substâncias tóxicas propriamente ditas. Elas têm o seu fabrico, armazenagem e utilização proibidas. A segunda visa os componentes dos quais essas substâncias tóxicas são sintetizadas. Eles também estão proibidos e são rigorosamente controlados. Eles não podem ser simplesmente vendidos.”

Entretanto, muitos especialistas admitem que o sarin pode ser sintetizado, como se diz, “em cima do joelho”. O investigador principal Piotr Topychkanov, do Centro de Segurança Internacional do Instituto de Economia Global e Relações Internacionais (IMEMO) considera:

“Um engenheiro-químico pode produzir em condições artesanais um gás tóxico que pode ser usado num ataque químico. Mas aqui não se trata de armas de destruição maciça, mas de uma pequena quantidade de gás que pode ser usada num atentado terrorista. Nesse contexto, recordo o ataque realizado pela seita Aum Shinrikyo em Tóquio.”


Por outro lado, segundo dados do Instituto Nacional de Saúde, apenas 280 gramas de gás sarin são suficientes para matar mais de 10 mil pessoas. Essa é precisamente a dimensão da tragédia síria. O diretor-geral do Centro de Conjuntura Política Serguei Mikheev considera:

“Aqui temos de nos basear no relatório elaborado pelo lado russo. Nela está fundamentado de uma forma bastante profissional o fato de as substâncias químicas encontradas terem sido produzidas de forma artesanal. Não é nenhum segredo que isso é, em princípio, possível. No nosso tempo isso é possível de fabricar em condições caseiras. Muitos componentes realmente estão à venda nas redes de comércio público, não só na Inglaterra ou na América, mas por todo o mundo. Existe a experiência real do uso por organizações extremistas de substâncias químicas, por exemplo, a seita Aum Shinrikyo também usou gás sarin no metrô de Tóquio. Ela fabricou-o sozinha. Portanto, isso não tem nada de inacessível. A probabilidade de as substâncias químicas terem sido fabricadas de forma artesanal é bastante elevada.”


De uma forma ou de outra, tudo volta a sublinhar a necessidade de uma investigação exaustiva. Só ela poderá determinar o grau de culpa das partes envolvidas no conflito.

Temos de reconhecer que a comunidade internacional está dividida relativamente à questão síria. Na cúpula do G20 ficou claro que pelo menos metade dos participantes desse clube de elite se pronuncia por uma ação militar contra Bashar al-Assad. Mas a outra metade defende o ponto de vista completamente oposto. Portanto, é necessário um consenso. Até ele ser obtido, qualquer ato contra Assad será visto como uma manifestação clara de desrespeito pela atual ordem mundial, que foi construída com base na ponderação dos múltiplos interesses antagónicos.

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