terça-feira, 24 de setembro de 2013

EUA não desistem das suas intenções bélicas contra a Síria


Os responsáveis pelos assuntos externos da Rússia e dos EUA Serguei Lavrov e John Kerry discutiram por telefone no domingo o decorrer do cumprimento dos acordos russo-americanos para a supervisão internacional das armas químicas sírias. Há uma semana os ministros tiveram uma conversa semelhante. Contudo, nos últimos tempos ficou claro que Moscou e Washington vêm de formas diferentes a finalidade de um plano para o desarmamento na Síria.

O titular das Relações Exteriores da Rússia Serguei Lavrov e o secretário de Estado dos EUA John Kerry acordaram o plano de entrega das armas químicas síria para a supervisão internacional, com a sua posterior destruição, no dia 14 de setembro. Segundo o acordo, em caso de Damasco destruir todas as suas reservas de armas químicas até meados de 2014, o Ocidente desistiria de uma ação militar contra a Síria. Damasco concordou com a proposta e já entregou à Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) os dados sobre os seus arsenais.


Estava previsto que a OPAQ apresentasse um plano para estabelecer a supervisão e para a destruição das armas químicas sírias já nos próximos dias. Mas eis que Washington declarou que sem a aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU de uma resolução “síria” ao abrigo do capítulo VII da Carta das Nações Unidas, e que prevê a possibilidade de uma operação militar, o trabalho dos peritos será suspenso. O Ocidente volta a colocar em questão a paz no Oriente Médio, refere o diretor do Instituto Internacional dos Novos Estados Alexei Martynov:

“Apesar de os acordos sobre o problema sírio entre os EUA e a Rússia, ao nível dos ministros das Relações Exteriores, terem sido completamente claros e concretos, o lado americano tenta diluir esse tema com a sua retórica. Os EUA tentam associar a esses acordos certas tendências condicionais do tipo “se por acaso alguém enganar o outro”. O ministro Lavrov respondeu a isso de uma forma perfeitamente clara qual será a posição seguida pela Rússia. Da firmeza da posição russa hoje depende a paz no Oriente Médio.”

Serguei Lavrov classificou abertamente de chantagem a declaração dos EUA. Washington exige uma autorização prévia dos bombardeamentos à Síria para que, em caso de um incumprimento por Damasco das suas obrigações, os EUA possam iniciar um ataque sem ter de se dirigir ao Conselho de Segurança da ONU. Isso prova que o objetivo dos EUA não é desarmar a Síria, não é uma solução pacífica do conflito, mas sim obter uma autorização por via indireta para um ataque militar. Claro que Moscou não pode garantir que Damasco cumpra integralmente o plano de destruição das armas químicas, mas insiste que só se pode falar de penalizações se houver incumprimento, sublinha a diretora do Centro da Ásia e Oriente Médio do Instituto Russo de Estudos Estratégicos Elena Suponina:

“O ministro das Relações Exteriores Serguei Lavrov se mostrou muito mais forte profissionalmente que o seu homólogo norte-americano John Kerry. Gostaríamos que os estadunidenses fossem igualmente claros e inequívocos: que digam o que querem relativamente à Síria. Infelizmente, a posição dos EUA apresenta neste momento muitas ambiguidades – ora eles querem bombardear a Síria, ora adiam esses planos sem os cancelar totalmente. Mas se já se chegou a acordo que não há uma solução militar para o problema, mas sim uma solução política, então há que agir nesse sentido. O lado russo está a fazer tudo para que os acordos políticos funcionem.”

Moscou está disposta, nomeadamente, a enviar para a Síria oficiais do exército russo e policiais militares para cumprir o plano internacional de destruição dos arsenais de armas químicas sírias. Mas enquanto o plano ainda não está elaborado, os esforços dos diplomatas devem ser canalizados para a sua coordenação detalhada e não para as tentativas de privar a região de uma oportunidade de viver em paz.

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