quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Cabo Verde: Organização islâmica radical Tablighi Jamaat passou a fase de recrutamento e encontra-se em fase de treinamento, com ações operativas no interior de Santiago


Depois de duas missões de sensibilização e recrutamento, a organização islâmica radical Tablighi Jamaat, que opera em Cabo Verde desde 2010, encontra-se em fase de treinamento, com acções operativas no interior de Santigo. O Governo acaba de admitir a existência de tal foco e, por isso, este assunto vai ser analisado pelo Conselho de Segurança Nacional, organismo que volta a reunir-se esta semana tendo tal dossiê sobre a mesa.

Mais vale tarde do que nunca. Depois de vários alertas lançados por este jornal, desde 2011, o Governo acabou por admitir a existência de grupos radicais islâmicos no país. O primeiro-ministro, José Maria Neves, afirmou, à saída de uma reunião do Conselho de Segurança Nacional (CSN), na semana passada, que “o Governo tem todos os dados em relação a grupos radicais e fundamentalistas no país”.

“Estamos a analisar vários estudos sobre a acção de grupos radicais e fundamentalistas no país e estamos a tomar um conjunto de medidas que já estão em curso. Na próxima semana (esta semana) vamos debater o assunto de forma a tomar medidas que, talvez, não serão publicitadas por se tratar da segurança do país”, esclarece.

Entretanto, o TablighiJamaat (TJ), organização islâmica tida como radical, está em Cabo Verde há mais três anos. Na primeira missão desenvolvida, 30 de Julho a 05 de Setembro de 2010, na cidade da Praia, uma sua delegação encetou contactos, essencialmente, com indivíduos da comunidade muçulmana.

Mas, já na segunda deslocação a Cabo Verde, em Novembro de 2011, a TJ accionoumecanismos mais “agressivos”, no sentido de mobilizar jovens cabo-verdianos. Hoje, perante a inércia das autoridades nacionais, depois de um período de recrutamento, a mesma organização passou à fase de treinamento numa base montada no interior de Santiago. Há muito que as autoridades cabo-verdianas vêm recebendo informações de diversas organizações internacionais sobre os perigos do alastramento do fundamentalismo islâmico no país, mas só agora, depois da situação ter ganho proporções “muito preocupantes” é que decidiram atacar o mal.

A CIA, agência de informações dos EUA, por exemplo, suspeita que o TJ é “rosto pacífico” de organizações extremistas e já alertou já a Cidade da Praia para o perigo da vulnerabilidade do arquipélago poder permitir que células terroristas se instalassem no país.

A ex-embaixadora americana na Praia MaryanneMyles e o ex-director da PJ portuguesa Pedro Carmo, segundo a Wikileaks, teriam trocado informações sobre indícios de que a Al Qaeda e outros grupos terem células terroristas a operar em Cabo Verde. Segundo uma fonte deste jornal, tais movimentações provocaram uma certa preocupação aos serviços de segurança internacionais, quando, em 2012, um grupo de onze elementos da facção radical do TJ esteve em Cabo Verde – um com passaporte brasileiro e 10 de nacionalidade moçambicana.

De acordo com uma fonte, há cada vez mais cabo-verdianos convertidos ao islamismo, uma situação que considera “preocupante”, tendo em conta que “na Europa há patrícios nossos oriundos de Santiago e Santo Antão, que estão a ser monitorizados por polícias internacionais, tais como a CIA e a ScotlandYard”.Praia, Assomada e Mindelo são as cidades onde se pode notar uma maior movimentação da comunidade islâmica, mas já há indícios de uma certa actividadetambém em Santo Antão e na Boa Vista.

O TablighJamaat descreve-se a si próprio como um grupo apolítico, não violento e interessado apenas em fazer regressar os muçulmanos ao Islão. O seu principal intuito – garantem os seguidores – consiste em preservar a fé, coesão e identidade da população muçulmana. Para tal, oferecem elaboradas definições do que consiste ser-se muçulmano, sobretudo no que toca ao código que rege o comportamento individual.

No geral, o TJ apresenta uma mensagem simples e contendo os princípios de base do islão. Ao aderirem a este movimento, os adeptos rompem como o seu modo de vida anterior e adoptam hábitos islâmicos na sua conduta diária.O modo de actuação do Tabligh consiste na reunião de pequenos grupos de missionários que visitam mesquitas, locais de culto, campus universitários ou se aproximam dos mais desfavorecidos, pregando o regresso aos verdadeiros valores islâmicos.

Com esta abordagem, os seus estrategos tentam captar novos membros, normalmente jovens do sexo masculino em busca de identidade, para dedicarem alguns dias ou semanas por ano à da´wa (pregação). Esta é no entanto a fachada, tendo em conta que, com o tempo, os novos membros acabam por ser arrastados para acções mais radicais. De recordar que Cabo Verde é o único país da África Ocidental não muçulmano, cada vez mais ligado ao Ocidente (EUA e Europa), funcionando não poucas vezes como ponte entre esse mesmo Ocidente e a esta sub-região africana, daí o interesse que tem vindo a suscitar por parte de uns e de outros.

Governo de Cabo Verde tranquiliza população sobre presença de extremistas

O governo de Cabo Verde tranquilizou a população sobre a alegada presença no arquipélago, de grupos islâmicos extremistas que poderiam estar recrutando e treinando elementos em território nacional, apurou a PANA de fonte oficial.


Através de um comunicado, o Executivo cabo-verdiano reagiu às notícias recentemente divulgadas, nomeadamente pelo jornal cabo-verdiano A Nação, que davam conta da eventual existência de grupos extremistas, principalmente no interior de Santiago, São Vicente, Boa Vista e Santo Antão, onde supostamente têm bases de treino.

Na nota, o Governo sublinha que, tal como o fez na sequência da recente reunião do Conselho de Segurança Nacional, "reconhece que existe hoje uma complexificação da criminalidade, designadamente através da ação de grupos armados, e, nessa medida, reitera a sua firme determinação de manter, neste domínio, uma política de tolerância zero (...)".

Garante também, que dispõe de todos os dados relativos à segurança nacional "e, em face deles, adota, em todas as circunstâncias, as medidas que se impõem e, mais ainda, mantém um quadro bastante alargado de cooperação com países amigos e instituições internacionais relevantes em matéria de Defesa e Segurança".

No seu comunicado, o governo cabo-verdiano assinala que, não obstante "a complexidade das reais ameaças que afligem todos os países neste mundo atual cada vez mais interligado”, nem por isso se justificam atitudes de "alarmismos ou das leituras descontextualizadas".

Nesta medida, "tranquiliza os cidadãos e aconselha a que seja adotada uma atitude de serenidade, do mesmo passo que reafirma o seu empenho constante em tudo continuar a fazer para que Cabo Verde seja sempre um Estado de direito democrático e uma nação de paz, tolerância e respeito constante pela legalidade internacional".

Na sua mais recente edição, o semanário A Nação dava conta de que depois de duas missões de sensibilização e recrutamento, a organização islâmica radical Tablighi Jamaat, que opera em Cabo Verde desde 2010, encontra-se em fase de treinamento, com ações operativas no interior de Santiago.

O primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, admitiu a existência de tal foco, sublinhando que "o governo tem todos os dados em relação a grupos radicais e fundamentalistas no país".

Na altura, ele anunciou que este assunto vai ser analisado ainda esta semana pelo Conselho de Segurança Nacional "de forma a serem tomadas medidas que, talvez, não serão publicitadas por se tratar da segurança do país".

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