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Duas imagens condensam a mensagem contida no recente relatório do Banco Mundial sobre o estado da economia Palestina.
A primeira é um cartaz da campanha Visualizing Palestine (Visualizando a Palestina), que mostra uma imagem modificada do Central Park de New York: estranhamente vazio. Entre os arranha-céus, o parque tem sido despojado das suas árvores e a legenda explica: desde o início da ocupação, em 1967, Israel tem arrancado 800.000 oliveiras pertencentes aos palestinianos, o suficiente para encher 33x Central Park.
A segunda imagem, uma fotografia amplamente divulgada em Israel no mês passado, é duma diplomática francesa no chão, olhando para os soldados israelitas que a rodeiam com as armas apontadas. Marion Castaing tinha sido maltratada quando, com um pequeno grupo de colegas diplomatas, tentavam fornecer ajuda de emergência, incluindo tendas, para os agricultores palestinianos cujas casas tinham acabado de ser arrasada.
As demolições foram parte dos esforços de longo prazo de Israel para remover os palestinianos do Vale do Jordão, o coração agrícola de um futuro Estado palestiniano. O desafio da diplomata Castaing teve como resultado o facto de ser repatriada para a Europa, como as autoridades francesas a tentar evitar um confronto com Israel.
O relatório do Banco Mundial é uma maneira discreta de afirmar o que a Castaing e os colegas esperavam destacar de forma mais directa: Israel está gradualmente a minar os alicerces sobre os quais os palestinianos poderiam construir a vida económica num Estado viável.
A Área C
O mesmo relatório segue uma longa série de alertas feitos nos últimos anos por várias organizações internacionais sobre a desastrosa situação económica que os palestinianos têm que enfrentar. O foco do relatório é a Cisjordânia, conhecida como Área C, que fica exclusivamente sob o controle israelita e na qual Israel implantou mais de 200 colónias para apropriar-se da terra e dos recursos palestinianos.
Marion Castaing |
O relatório do Banco Mundial deve ser visto como um complemento à decisão, tomada no Verão pela União Europeia, que exclui dos financiamentos da UE as entidades associadas às colónias. Por sua vez, reflecte a crescente frustração internacional por causa da intransigência israelita e a aparente impotência (e cumplicidade) dos Estados Unidos.
Com Israel e os palestinianos obrigados a regressar à mesa das negociações, em Julho, e depois que a Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, ter alertado que esta era a "última possibilidade" para um acordo, a comunidade internacional está desesperadamente tentando exercer uma qualquer pequena influência sobre Israel e os EUA para obter um Estado palestino .
A preocupação do Banco Mundial para a Área C é justificada. Este é o lugar onde ficam quase todos os recursos que um eventual Estado palestiniano terá de explorar: terrenos não urbanizados para futura construção, terras aráveis e recursos hídricos para o cultivo; pedreiras e o Mar Morto para os minerais e sites arqueológico para atrair o turismo.
Com o acesso a estes recursos, a Autoridade Palestiniana poderia gerir uma receita adicional de 3,4 biliões de Dólares por ano: aumentaria o seu PIB de um terço, reduziria um deficit crescente, diminuiria uma taxa de desemprego que atinge 23%, reduziria a pobreza e a insegurança alimentar e ajudaria o nascente Estado a libertar-se da dependência da ajuda estrangeira. Mas nada disso pode ser alcançado enquanto Israel mantiver a sua barbárie na Área C em violação dos acordos de Oslo de 1993.
Israel tem enraizado o seu domínio na Área C devido à riqueza em recursos naturais da zona: não quer que os palestinianos obtenham os bens com os quais construir um Estado e, ao mesmo tempo, não quer perder os muitos benefícios materiais que ganhou na mesma Área.
O comportamento israelita na zona desmente a afirmação do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, segundo o qual exerceu uma "paz económica" com os palestinianos. Em vez disso, a descrição da política israelita como "guerra económica" fica muito mais próxima da realidade.
Nos últimos anos, a disparidade entre o PIB per capita de Israel e aquele dos palestinianos atingiu o dobro e o Banco Mundial afirma que a economia palestiniana está rapidamente a parar: o crescimento de 11 por cento que Netanyahu tinha planeado para 2011 reduziu-se drasticamente para 1,9 % nos primeiros seis meses deste ano. Na Cisjordânia, o PIB real contraiu-se 0,1%.
A Área C precisa dos fundos da Palestina. Os investidores são avessos a lidar com as autoridades militares israelitas que, invariavelmente, negam o desenvolvimento e condicionam severamente os movimentos. A imagem da diplomática francesa na terra é a que melhor simboliza o comportamento: os agricultores palestinianos não podem praticar culturas rentáveis com a quantia de água racionada que Israel concede.
Cientes dos muitos obstáculos no desenvolvimento da Área C, as autoridades palestinianas têm simplesmente ignorada-a, concentrando-se no território da Cisjordânia ainda livre, densamente povoado e pobre em recursos.
Na verdade, o relatório do Banco Mundial afirma o plano do Secretário Kerry (investimentos estrangeiros na Cisjordânia) não é apenas errado, é deliberadamente enganoso: não pode haver nenhum sério investimento enquanto Israel ocupar a Área C..
A ideia de que uma ajuda financeira ou o plano económico de Netanyahu possam resultar é uma ilusão. A paz e a prosperidade só chegarão quando os Palestinianos estarão livres do controle israelita.
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