Seja em um doce multicolorido, um xarope para a tosse, uma tintura de cabelo ou até um batom, os corantes estão bem presentes no nosso dia a dia e se dividem em dois tipos: os naturais e os artificiais. Os naturais podem ser obtidos de insumos vegetais, minerais ou animais, e os artificiais são obtidos ou através de derivados de petróleo, ou do alcatrão de carvão mineral.
Dado a relevância dos corantes no mercado e em nossa vida, saber quais são nocivos à saúde e quais não é imprescindível. Muitas mães dão doces aos seus filhos sem nem ter noção de que eles contêm corantes que podem provocar desde alergias até câncer!
Corantes naturais: praticamente inofensivos, mas com ressalvas…
Usado em doses aceitáveis, a maioria dos corantes naturais derivados de ativos vegetais são inofensivos, tais como o urucum, betacaroteno, extrato de beterraba, licopeno, etc. Os derivados de minerais, que geralmente são óxidos, também não dão muita dor de cabeça (desde que não sejam nanopartículas, aí é outra história). No entanto, alguns corantes naturais merecem atenção especial. São eles:
Corante Caramelo (caramel coloring)
- Como é obtido: originalmente, o corante caramelo foi obtido através de um processo bem simples, que consistia em esquentar o açúcar até que ele se caramelize (daí o nome) – esse processo, inclusive, ainda é muito usado, e é o menos nocivo. No entanto, o corante caramelo ainda pode ser obtido através dareação entre açúcares e amônia/sulfitos.
- Qual é a cor fornecida por esse corante? Tons que variam do amarelo-palha até o marrom bem escuro.
- Onde ele é encontrado? Molhos industrializados, caldos em tablete, refrigerantes, bebidas alcoólicas como o uísque, biscoitos, cereais matinais, energéticos e até aveia que não seja 100% pura.
- Motivos pelos quais você deve evitá-lo: o corante caramelo obtido através da caramelização do açúcar pura e simples não oferece muito perigo. Já alguns corantes caramelo obtido através da reação entre açúcares e amônia/sulfitospodem gerar subprodutos como o 2-methylimidazole e 4-methylimidazole, que são cancerígenos (fonte). Muitos refrigerantes contém corantes derivados desse processo.
- Qual identificar o nome do corante na embalagem? Geralmente vem escrito “corante natural caramelo” ou “corante caramelo”. Os corantes caramelo III e IV (existem 4 tipos) são os mais nocivos, e levam o nome de “corante Caramelo IV” (ou “INS 150d”) e “corante Caramelo III” (ou “INS 150d”).
Corante carmim (carmine) ou cochonilha (cochineal)
- Como é obtido? O corante carmim é basicamente obtido de um animal, o inseto Dactylopius coccus, e o processo é alvo de críticas porque implica, necessariamente, na morte do mesmo. Toneladas desses insetos são esmagados para esse fim.
- Qual é a cor fornecida por esse corante? Varia do rosa claro ao vermelho.
- Onde ele é encontrado? Alimentos (iogurtes, doces) e cosméticos (batons e blushes, qualquer produto que tenha cor rosada).
- Motivos pelos quais você deve evitá-lo: aos engajados na causa animal, evitar esse tipo de corante é importante para evitar mortes desnecessárias, já que é possível obter tons de vermelho e rosa através de pigmentos da beterraba, bem como argilas e minerais em determinados casos.
Corantes artificiais e seus malefícios para a saúde
Ao contrário dos corantes naturais, os corantes artificiais, como o nome mesmo sugere, são sintetizados ou por meio de derivados do petróleo, ou por meio do alcatrão de carvão. Eles conferem cores mais vívidas e atrativas aos alimentos (principalmente os doces) que os corantes naturais, mas seus efeitos no organismo a curto, médio e longo prazo podem ser devastadores.
Substâncias usadas para sintetizar corantes artificiais e o câncer
A “encrenca” com os corantes artificiais se dá porque são sintetizados principalmente através dos hidrocarbonetos aromáticos (benzeno, xileno, tolueno) e dos HAPs (hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, “PHAs”, em inglês), como o naftaleno. Esses compostos são obtidos do alcatrão de carvão e também do petróleo.
De acordo com o EWG, organização especializada em estudar os impactos das substâncias químicas (dentre outras atuações), os PHAs recebem nota 9/10 na escala que mede o grau de “perigo” de algum composto (quanto maior a nota, mais nocivo). Essa pontuação se dá porque os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos são apontados como possivelmente cancerígenos por diversas instituições, inclusive pelo conceituado IARC (International Agency for Research on Cancer). Hidrocarbonetos aromáticos, tais como o benzeno e tolueno, são tóxicos e comprovadamente cancerígenos (fontes: Cancer.org).
Os efeitos dos corantes artificiais mais usados
Os corantes artificiais podem ser encontrados em uma infinidade de alimentos (se for colorido demais, desconfie), mas principalmente em guloseimas (chicletes, balas, doces em geral), suquinhos de caixinha, etc. Em maquiagens, não é raro encontrar batons e sombras que levem corantes artificiais. Em remédios, idem: xaropes coloridos, comprimidos com cores atrativas, etc.
Em linhas gerais, qualquer alimento que seja multicolorido ou com cores “divertidas” certamente terá corante sintético, o mesmo vale para maquiagens convencionais, que não sejam verdadeiramente minerais ou orgânicas. Remédios que não sejam brancos ou transparentes (no caso dos líquidos), provavelmente terá corantes, ou caramelo ou algum artificial. Mas, claro, não basta só olhar a aparência do alimento, é preciso olhar o rótulo e identificar os corantes na composição (saiba como mais a frente).
Caso alguém venha a se perguntar qual o significado das letras que compõe o nome dos corantes que citarei abaixo, aí vai a explicação: “F” significa aprovado para uso alimentar (food). “D” significa aprovado para remédios (drugs). ”C” significa aprovado para cosméticos (cosmetics).
Dito isso, conheça melhor alguns dos corantes sintéticos mais famosos e seus efeitos:
Tartrazina (Tartrazine)
- Qual a cor fornecida por esse corante? Amarelo-limão, geralmente.
- Onde ele é encontrado? Remédios (como Coristina D), salgadinhos (tais como Doritos), bebidas (Gatorade, Tang), gelatinas e cosméticos (shampoos, hidratantes, produtos de coloração aparentemente “artificial”), chocolates (como o Confete da Lacta, M&M’s), cereais matinais, etc.
- Quais são seus efeitos? O corante tartrazina é fortemente relacionado aosurgimento de alergias, resultando em urticária e/ou asma (fonte). Seu uso é proibido na Noruega.
- Como reconhecer esse corante nos rótulos? Além do “Tartrazina” ou “Tartrazine”, esse corante pode vir como FD&C Yellow 5 (mais comum), FD&C Yellow No. 5, C.I. 19140 ou E102 (na Europa)
Amarelo crepúsculo (Sunset Yellow)
- Qual a cor fornecida por esse corante? Laranja, geralmente
- Onde ele é encontrado? Doces, salgadinhos, refrigerantes sabor laranja, algumas geleias, salgadinhos, bebidas (como Gatorade), remédios e cosméticos.
- Quais são seus efeitos? De acordo com o Daily Mail, a produção do amarelo crepúsculo pode gerar o subproduto Sudan 1, que é cancerígeno. Além disso, o corante estaria ligado a reações alérgicas e hiperatividade em crianças. Foi proibido na Noruega e Finlândia.
- Como reconhecer esse corante nos rótulos? Além do “Amarelo Crepúsculo” ou “Sunset Yellow”, esse corante pode vir como FD&C Yellow 6 (mais comum), FD&C Yellow No. 6, C.I. 15985 ou E110 (na Europa)
Azul brilhante (Brilliant Blue)
- Qual a cor fornecida por esse corante? Como o nome sugere, tons de azul. Pode ser misturado a outros corantes para gerar cores secundárias, como o verde.
- Onde ele é encontrado? Cremes dentais, doces (principalmente aqueles que pintam a língua), bebidas como o licor Curaçau Blue, maquiagens, remédios, etc.
- Quais são seus efeitos? De acordo com a Fox News, pesquisadores descobriram que esse corante pode chegar à corrente sanguínea através da pele, língua e do aparelho digestivo. A descoberta seria ruim porque estudos apontam que o Azul Brilhante pode inibir a respiração celular – essencial para a vida. Além disso, o corante é relacionado a alergias e asma.
- Como reconhecer esse corante nos rótulos? Além do “Azul Brilhante” ou “Brilliant Blue”, esse corante pode vir como FD&C Blue 1, FD&C Blue No.1, C.I. 42090 ou E133 (na Europa).
Complementando os corantes artificiais citados, existem outros menos comuns, mas que também estão associados a alergias, hiperatividade, câncer, tumores na tireoide, (dentre outros) e é prudente que sejam evitados. São eles:
- FD&C Blue No. 2 – confere coloração azul. Também chamado de Indigotina, Anil, Indigotine, E132, CI 73015
- FD&C Green No. 3 – confere coloração verde turquesa. Fast Green FCF, C.I. 42053, E143
- FD&C Red No. 40 – confere coloração verde. Também chamado de Vermelho Allura AC, Vermelho Allura, Allura Red AC, E129, C.I. 16035
- FD&C Red No. 3 – confere coloração rosa-cereja. Também é chamado de Eritrosina, Erythrosine, E127, C.I. 45430
Sei que ninguém vai ficar decorando o nome de cada um dos corantes, mas é importante lembrar que se aparecer no rótulo do produto qualquer composto que tenha “FD&C”, “D&C” e/ou “Lake” no nome, evite-o. Caso você esteja longe do computador e veja o nome do composto escrito em “C.I” (exemplo: C.I. 16035),provavelmente é alguma substância que o fabricante prefere que você não identifique com facilidade (por que será?).
Para fechar, você deve estar se perguntando porque os corantes artificiais, mesmo com todos os estudos apresentando seus aspectos negativos, continuam sendo usados amplamente. A resposta é um tanto simples: corantes naturais são mais caros, encarecem o produto final e diminuem o consumo. Não é vantajoso economicamente.
A questão é: seria justo com as nossas crianças, que são o principal alvo do amplo uso desses corantes? Qual é o real preço que todos esses alimentos, medicamentos e cosméticos, levando em conta todos os danos para a saúde que eles podem causar? É algo importante para todos, principalmente as mães, pensarem.
Estou ciente de que lidar com criança não é fácil e é praticamente impossível proibi-los de ter qualquer tipo de contato com doces e alimentos que tenham corantes artificiais – isso fora de casa. Dentro de casa, a alimentação dos filhos é controlada pelos pais: se não tem, a criança não come. Simples assim. Ela pode até querer, mas vendo que não tem, ela pode até resmungar, mas logo vai esquecer e nem vai lembrar disso. No começo é difícil, mas é necessário e para o bem dela.
Fontes e Referências: Cancer.org; Food.gov.uk; Corpo a Corpo; Idec.org; Super;Healthy Child; Cspinet
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