terça-feira, 20 de agosto de 2013

Governados por parasitas e charlatões que se acotovelam por um lugar no Parlamento, no Governo, na Câmara Municipal, numa empresa pública, Fundação, ou Instituto.

Transcrevo o texto abaixo, enviado por um leitor do blog, um português, que considerei, com um espírito de cidadania, marcante e acima da média.

Achei interessante o que escreve, pois resume aquilo em que acredito. Expõe aquilo que constato. Resume aquilo que faço. E de forma lúcida, desvenda o estado do país; o que temos, o que poderíamos melhorar, como melhorar e porque não melhora.
Urge que os portugueses sejam cidadãos atentos, cultos, informados, exigentes e exerçam com firmeza os seus direitos e deveres de cidadania.

Sem proceder a uma mudança da mentalidade e da cultura portuguesa, é impossível mudar o estado do país e travar o abuso dos que nos escravizam. Pior... sem mudar as mentalidades, nenhuma mudança perdurará.

E é essencialmente neste ponto, que o artigo abaixo escrito, converge com a intenção deste blog.

Pois nunca foi intenção deste blog, apenas noticiar actualidades. Difamar gratuitamente, pessoas ou partidos. Maldizer apenas para passar o tempo. Compilar escândalos de corrupção apenas por curiosidade. Ou exibir dotes de escritora, que sei que não possuo. Há muita gente a fazer isso e com melhores meios e capacidades que eu.
O que me move é apenas contribuir para ajudar a mudar mentalidades.

1. Descobri o seu blog por acaso há dois dias.

2. Gostaria em primeiro lugar de lhe endossar os meus sentidos parabéns pela iniciativa do mesmo, pela forma desassombrada e desinibida como expõe os podres do regime, bem como uma palavra de apreço e incentivo pelo notável trabalho de pesquisa efectuado, que deve ter sido de um esforço tremendo e consumido muitas horas.

3. Asseguro-lhe que a sua indignação não é solitária: milhares de pessoas no país compartilham da sua opinião e indignação.

4. Muitos de nós, pessoas comuns, gostaríamos de viver num tipo de sociedade diferente, que nos proporcionasse melhores condições de vida.

Como seria uma melhor sociedade?

5. Sendo discutíveis quais as características de uma boa sociedade, há contudo um núcleo central cuja prevalência me parece consensual:

LIBERDADE - para os cidadãos construírem e viverem as suas vidas da forma que lhes aprouver.

IGUALDADE - no tratamento perante a Lei para todos os cidadãos.

ÉTICA - nos relacionamentos sociais entre humanos e entre os humanos e as restantes espécies.

SEGURANÇA - que nos permita andar na rua ou permanecer em casa sem receio de sermos molestados ou espoliados.

SOLIDARIEDADE - com os atingidos por doenças, infortúnios, acidentes ou catástrofes.

CONDIÇÕES DE DESAFOGO ECONÓMICO - para quem é diligente.

RESPEITO PELO MEIO AMBIENTE e conservação de ecossistemas onde as várias espécies possam coexistir em conjunto.

SUSTENTABILIDADE - a satisfação das nossas necessidades actuais não poderá comprometer a satisfação das necessidades futuras.

RESILIÊNCIA perante situações adversas inesperadas.

ESTABILIDADE, que permita às pessoas manterem e planearem a sua vida atempadamente. 

6. A minha visão política daquilo que deve ser o papel do Estado nessa sociedade pode-se resumir na citação seguinte:

"O fim último do Estado consiste não em dominar sobre os homens, aprisionando-os pelo medo, sujeitando-os à vontade de outros. Em vez disso, ele tem por fim agir de modo que os seus cidadãos possam em segurança desenvolver a alma e o corpo e fazer livre uso da sua razão. Porque o fim último do Estado é a Liberdade." (Bento de Spinoza, séc. XVI).

7. Ora um país onde as pessoas são obrigadas a fechar-se em casa com medo da criminalidade violenta, desistem de recorrer a tribunais que não condenam culpados nem ilibam inocentes e em vez disso envolvem-se em trapalhadas legais com decisões contraditórias e julgamentos que nunca mais terminam, com uma emigração massiva de miseráveis a quem foram retirados os meios de subsistência, com um aparelho de Estado infestado por uma Nomenklatura de parasitas pagos a peso de ouro e onde os cargos públicos são hereditários transitando de pais para filhos, com uma fiscalidade intolerável que nos obriga a trabalhar mais de 6 meses (!!!) por ano só para pagar impostos, transformando os contribuintes em autênticos servos da gleba, sem direitos ou protecção jurídica, e que passam a maior parte do ano a trabalhar para sustentar estes novos senhores, criou uma sociedade neo-feudal, que está muito longe da visão de Spinoza e da minha própria do que poderia e deveria ser a nossa vida neste país.

Conseguirão as manifestações mudar o regime?

8. O descontentamento das populações traduz-se muitas vezes por manifestações de desagrado, que vão desde a expressão verbal, nas conversas quotidianas, às manifestações de rua, que dão visibilidade a essa expressão verbal, e, à expressão por escrito, onde se incluem os blogs - entre outras formas que não irei aqui analisar.

9. Coloca-se aqui no entanto a questão da eficiência dessas manifestações: serão elas capazes de causar uma mudança (que poderá por vezes não corresponder a uma melhoria) do regime político?

10. Se analisarmos os exemplos históricos, as únicas situações em que as manifestações de desagrado levaram a mudanças políticas reais foram aquelas cuja dimensão, intensidade e amplitude foram de tal forma efectivas que ou retiraram o poder político a quem o exercia, substituindo-os por novos actores, ou ameaçaram retirar o poder político a quem o exercia, forçando-os a modificarem a conduta para não serem destituídos.

11. A denúncia de ilegalidades ou corrupção existentes no seio do Estado em regimes - como é o caso do nosso - em que as próprias instituições policiais e judiciais são cúmplices e beneficiárias da iniquidade do sistema, resulta relativamente inócua no que aos infractores diz respeito. Os agentes policiais ou judiciais (salvo algumas honrosas excepções) nunca agirão contra os seus próprios interesses.

12. Significa isso que é uma perda de tempo efectuar denúncias? Não, antes pelo contrário. Qualquer movimento de mudança terá de passar previamente por um processo deconsciencialização, análise e reflexão por parte dos cidadãos e o estudo das denúncias integra-se e é imprescindível nesse processo. Só com base no conhecimento se conseguirá delinear uma melhor estrutura social.

Na génese da situação actual encontra-se a apropriação do Estado por parte de quem o incorpora para fazer fortuna à custa dos contribuintes.

13. O Estado que deveria ser uma entidade para gerir os bens comuns dos cidadãos, proporcionar-lhes segurança e administrar a justiça nos conflitos entre eles, transformou-se simplesmente noESTADO SA, uma espécie de sociedade anónima que gere 50% da riqueza do país, extorquindo impostos coercivamente às pessoas e depois redistribuindo-os de acordocom a vontade de quem governa.

14. Com esta concentração de riqueza sem precedente histórico neste país, quem controlar o Estado tem acesso a meios que por intermédio de ordenados, subsídios, contratos, ajudas de custo, subornos, furtos, etc. lhe permitem sem qualquer custo ou risco, enriquecer rapidamente, usando em proveito próprio recursos que foram retirados à população.

15. Não admira por isso que se crie uma corte de parasitas, aldrabões e charlatões acotovelando-se por um lugar no Parlamento, no Governo, numa Câmara Municipal, numa empresa pública, numa Fundação, ou mesmo num obscuro Instituto qualquer. Para conseguir ser eleito, essa corja está disposta a tudo e não tem quaisquer escrúpulos em promover a imbecilização da população e mentir descaradamente: uma população ignorante é mais facilmente manipulável, toma como certas as mentiras que lhe são impingidas, tem memória curta e nem se recorda que as promessas que lhe fazem em cada campanha eleitoral são exactamente as mesmas que já lhe haviam sido feitas na campanha anterior, e que lhe voltarão a ser repetidas na próxima campanha.

16. Por isso a luta pela democracia neste país tem que ser em primeiro lugar uma luta pela cultura, pelo aumento do nível cultural real da população. Uma população culta é mais consciente e possui ferramentas intelectuais que lhe permitem avaliar melhor a credibilidade dos agentes políticos e das suas promessas. E desmascarar as mentiras e a propaganda enganosa.

17. Ora o conceito de instrução popular dos nossos governantes é a triste palhaçada que neste país se designou pelo nome de "Novas Oportunidades" consistindo em distribuir diplomas académicos a pessoas sem uma avaliação escolar formal, e que não possuem conhecimentos técnicos, culturais ou científicos que os justifiquem. Esta "certificação de competências adquiridas" só poderia ser inventada por um primeiro-ministro que não teve escrúpulos em falsificar ele próprio a seu diploma de licenciatura.

18. Por uma questão de segurança própria, para não caírem do poder e serem afastados do festim em torno do dinheiro dos contribuintes, não há interesse dos nossos governantes em promover a cultura da população. Pessoas que pensem por sua própria cabeça, tenham princípios éticos, exijam governantes honestos e competentes, e responsabilizem quem os enganou, não são eleitores desejáveis para esta gente.

19. O êxodo de pessoas deste país, é efectivamente massivo. Muitas pessoas emigram contrariadas, mas não vêem alternativa para conseguirem ganhar a vida. Simultaneamente constitui uma válvula de escape para as tensões sociais. Sem a possibilidade de irem trabalhar para o estrangeiro, a situação miserável para que muitos destes emigrantes foram empurrados já os teria levado a uma situação de desespero, possivelmente mesmo a furtos ou pilhagens para conseguirem sobreviver.

Afinal como efectuar uma mudança de regime?

20. A mudança de regime político apenas se consegue com a tomada do poder.

21. O elemento específico do poder pode ser obtido das várias formas de poder, baseadas nos meios de que se serve o sujeito activo da relação para determinar o comportamento do sujeito passivo.

22. Assim, podemos distinguir três grandes classes de um conceito amplíssimo do poder:

- Poder ideológico;
- Poder económico;
- Poder político.
- O poder ideológico;

23. O poder ideológico baseia-se na influência que as ideias da pessoa investida de autoridade intelectual exerce sobre a conduta dos demais: deste tipo de condicionamento nasce a importância social daqueles que sabem, quer os sacerdotes das sociedades arcaicas, quer os intelectuais ou cientistas das sociedades evoluídas. É por eles, pelos valores que difundem ou pelos conhecimentos que comunicam, que ocorre a de socialização necessária à coesão e integração do grupo.

24. A conquista do poder ideológico, poderá ser efectuada (entre outros) por bloggers conhecedores, talentosos, e que saibam o que dizem. O conhecimento, a elevação do nível cultural da população e a imposição de padrões éticos nas condutas são indissociáveis de uma evolução para melhor do regime.

25. Contudo este poder ideológico tem de ser abrangente, alargado a toda a sociedade portuguesa, e isso só se consegue com a existência de canais de divulgação eficientes (media, boca-a-boca, publicações escritas, internet, etc.) que o façam chegar a toda a gente.

O poder económico

26. O poder económico é o poder que se vale da posse de certos bens, necessários ou considerados como tais, numa situação de necessidade para controlar aqueles que não os possuem.

27. A posse de recursos financeiros é enorme fonte de poder para aqueles que os têm em relação àqueles que os não têm: quem possui abundância de recursos é capaz de determinar o comportamento de quem não os tem pela promessa e concessão de vantagens económicas.

28. Parte do poder político em Portugal reside na detenção de recursos financeiros imensos. Controlando os políticos nacionais mais de 50% do PIB por intermédio do Estado, Autarquias, Institutos, Fundações e Empresas Estatais e redistribuindo-o a seu bel-prazer eles têm a possibilidade de decidir quem enriquece, quem empobrece, quem come ou quem passa fome.

29. Esta dependência económica cria uma psicologia de submissão ao poder político, quer pela esperança de obtenção de vantagens financeiras, quer pelo receio de ser colocado numa situação de exclusão e constitui uma fonte dissuasora de contestações, denúncias ou tentativas de mudança do regime.

30. Por conseguinte, qualquer processo de moralização do Estado necessitará sempre de retirar recursos financeiros aos políticos, transferindo-os para os cidadãos comuns, e aproximando estes últimos de uma auto-suficiência e desafogo financeiros que os coloquem numa situação de não-dependência económica relativamente aos actores políticos e lhes permitam abandonar quaisquer subserviências estimuladas por carências económicas.

O poder político

31. O poder político baseia-se na posse dos instrumentos com os quais se exerce a força física: é o poder coercivo no sentido mais estrito da palavra.

32. A possibilidade de recorrer à força distingue o poder político das outras formas de poder. Isso não significa que, ele seja exercido pelo uso da força; a possibilidade do uso é condição necessária, mas não suficiente para a existência do poder político. A característica mais notável é que, o poder político, detém a exclusividade do uso da força em relação à totalidade dos grupos sob sua influência.

33. No poder político há três características: uma delas é a exclusividade que trata da tendência de não se permitir a organização de uma força concorrente. Como por exemplo, grupos armados independentes. Encontra-se também a universalidade, tratando-se da capacidade de se tomar decisões para toda a colectividade. E por último a inclusividade que é a possibilidade de intervir, de modo imperativo, em todas as esferas possíveis de actividades de membros do grupo e de encaminhar tais actividades aos fins desejados ou de desviá-las de um fim não desejado.

34. Concluindo: 


  • sem deter ou influenciar quem detém o poder, podemos sempre barafustar, mas dificilmente conseguiremos efectuar a necessária mudança na sociedade portuguesa;
  • Sem conhecimentos, dificilmente a modificação não redundará em trapalhadas;
  • Sem ética, dificilmente mudaremos para melhor;
  • Sem uma população culta e com valores, dificilmente qualquer modificação perdurará.
35. Reiterando novamente os meus sinceros parabéns pelo trabalho efectuado e reafirmando que partilho e sou solidário com os seus motivos de indignação relativamente à condução dos assuntos públicos deste país, desde já disponibilizo os meus préstimos caso deles necessite em prol da luta pela implementação das boas práticas democráticas e éticas na condução do Estado português.

Atenciosamente... "

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