A directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou hoje, em Maputo, perante vários membros de governos africanos, que as receitas das indústrias extractivas do continente favorecem uma minoria, o que corrói a economia e a coesão social.
"Deixem-me ser franca, em demasiados países as receitas das indústrias extractivas são absorvidas por uma minoria e não chegam às populações", declarou Christine Lagarde, na abertura da conferência África em Ascensão, promovida pelo FMI e pelo Governo moçambicano hoje e na sexta-feira em Maputo.
"O sector mineiro pode contribuir para a criação de riqueza e ganhos nas exportações, mas frequentemente contribui pouco para as receitas orçamentais e criação de emprego", declarou a directora-geral do FMI, acrescentando que "isto corrói o tecido económico e coesão social".
Num longo discurso de abertura da conferência, junto do Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, Christine Lagarde lembrou o "enorme potencial de África", um continente que mantém 30% das reservas minerais mundiais.
"O que pode ser feito? Fortalecer o quadro institucional e de governação para gerir estes recursos pode ser um bom começo", afirmou, acrescentando que "a transparência pode ajudar a aumentar a prestação de contas e contribuir para que os recursos sejam dirigidos para o benefício de todos".
Segundo a directora-geral do FMI, a "pobreza permanece em níveis altos e inaceitáveis", atingindo 45% das famílias, bem como a "desigualdade elevada", a que se soma em alguns países conflitos internos recorrentes.
O continente mostrou-se resistente durante a crise financeira internacional, crescendo acima dos 5%, mas, segundo Lagarde, "se houve algo que este período ensinou é que é fundamental distribuir os benefícios, porque, quando todos beneficiam, o crescimento é mais duradouro".
A responsável do FMI elogiou, por outro lado, a estabilidade económica na África subsaariana e os ganhos na educação e na redução da mortalidade infantil, acrescentando que esta região "está claramente a descolar" e que vai beneficiar de um valor recorde de 80 mil milhões de dólares (58,7 mil milhões de euros) no investimento estrangeiro direto esperado este ano no continente.
Apesar de o mundo estar agora a ultrapassar a pior crise desde a Grande Depressão, "a recuperação é frágil e incerta" e, no curto-prazo, África será afetada pelo crescimento mais lento nas economias mais avançadas e dos países emergentes, bem como pelos preços baixos das matérias-primas.
No entanto, a longo-prazo, o continente terá outros "desafios que podem mudar drasticamente o panorama, alguns para melhor outros nem tanto".
As infraestruturas registam atrasos consideráveis em relação a outras regiões do globo. Na África subsaariana, as receitas em energia elétrica permanecem inalteradas há três décadas e apenas 14% das estradas estão pavimentadas, contra 58% no sul da Ásia.
Por outro lado, o desafio demográfico é bastante mais promissor. Calcula-se que em 2040 África possua mil milhões de pessoas em idade ativa, mais do que China e Índia juntas, e algumas estimativas indicam que a subida de um ponto percentual na população ativa pode aumentar o crescimento do PIB em 0,5 pontos percentuais. "Isto é gigantesco", considerou a responsável do FMI, acrescentando que "o maior potencial africano são as pessoas".
Para isso, prosseguiu, é preciso criar postos de trabalho no setor privado, sabendo-se que atualmente apenas uma em cada cinco pessoas tem emprego formal.
A situação é ainda pior no caso das mulheres, outra situação que mereceu o alerta da diretora-geral do FMI, que recuperou a propósito um provérbio africano: "Se educas um rapaz, crias um homem, se educas uma rapariga, crias uma comunidade".
Fonte: http://noticias.sapo.mz/info/artigo/1387342.html
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